Eduardo Moura
14 min readOct 29, 2020

Um bispo na tormenta

Depois de uma vida de serviço exemplar à Igreja, este arcebispo reformado ainda tinha o seu maior trabalho pela frente. O seu espírito generoso e visão lúcida ainda hoje são o coração da FSSPX.

Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, nasceu em 29 de Novembro de 1905, na cidade francesa de Tourcoing. Marcel, o terceiro de oito filhos, dos oitos filhos, cinco consagraram-se a Deus: René e Marcel junto aos Padres do Espírito Santo, Jeanne será freira de Maria Reparadora, Bernadette freira do Espírito Santo e Cristiane Carmelita. Cresceu sob a supervisão dos seus pais René Lefebvre e Gabrielle Watine Lefebvre, católicos devotos, membros da conferência de São Vicente de Paulo e superiora da ordem terceira de São Francisco, seu pai possuía uma fábrica têxtil local.

A trajetória de Marcel Lefebvre (1905–1991) começou como uma bela linha ascendente: seminarista romano (1923–1930), doutor em Filosofia e em Teologia pela Universidade Gregoriana, ordenado sacerdote com apenas vinte e quatro anos pelo futuro cardeal Liénart, começou seu ministério como segundo vigário de uma paróquia de um bairro de operários, mas depois, mudando sua orientação, tornou-se religioso missionário espiritano.

Marcel Lefebvre nasceu em Tourcoing, França, em 29 de novembro de 1905, sendo o terceiro de oito filhos, cinco dos quais se consagraram a Deus: René e Marcel, como padres e missionários; Jeanne, como religiosa de Maria Reparadora; Bernadette, como religiosa do Espírito Santo; e Christiane, como carmelita. O pai desta família numerosa era um empresário industrial do Norte da França, morto em um campo de concentração nazista em 1944. A mãe, proveniente também de uma família industrial do Norte, era terciária franciscana, enfermeira da Cruz Vermelha e uma pessoa que sabia unir as obras com a vida interior, oferecendo a Deus tanto suas penas como suas alegrias.

Jovem apóstolo

Também Marcel sentia, em sua adolescência, a necessidade de entregar-se. Percorria em bicicleta as ruas de Tourcoing para visitar os pobres. Pintou a casa de um pobre relojoeiro paralítico e procurou clientes para ele, transformando assim sua vida. Seu coração ardia pelo desejo de salvar almas e, por isso, depois de uma madura reflexão, decidiu tornar-se padre.

Seminarista romano

Havendo ingressado no Seminário Francês de Roma (1923–1930), na via Santa Chiara, se converteu em um fervoroso discípulo do Padre Le Floch. Esse sacerdote revelava a seus alunos, em suas conferências espirituais, o papel providencial dos papas no transcurso da história da Igreja, particularmente na luta constante dos últimos pontífices romanos contra os erros de seu tempo: o liberalismo, o socialismo e o modernismo. Mas o que mais chamou sua atenção foi a encíclica inaugural do papa Pio X, E supremi apostolatus (1903), e seu lema, “restaurar todas as coisas em Cristo”, que Marcel transformou em seu plano de vida sacerdotal.

O jovem seminarista Lefebvre se entusiasmava também pelo reinado social e político de Cristo Rei tal como era proposto pelo Papa Pio XI em sua encíclica Quas primas (1925). Na Universidade Gregoriana, obteve os diplomas de doutor em filosofia e em teologia, manifestando assim um conhecimento profundo em todas as matérias da ciência de Deus e das almas.

Seminário e ordenação

Marcel, atraído para o sacerdócio desde a sua juventude, seguiu o conselho do seu pai e entrou no seminário francês em Roma aos 18 anos. Seis anos depois, foi ordenado sacerdote; logo em seguida, completou o seu doutoramento em teologia e começou o trabalho pastoral na diocese de Lille.

Com a ocasião da festa de Corpus Christi, convenceu o pároco, Padre Delahaye, a organizar uma procissão pública com o Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade de Lomme, apesar das ameaças dos comunistas. Mas, ainda que estivesse contente por exercer seu sacerdócio entre pessoas simples, sentia-se atraído pelo ideal missionário e pelo estado religioso. Por esta razão, ingressou no noviciado dos Padres do Espírito Santo em 1932.

O irmão mais velho do Padre Lefebvre, um missionário associado aos Sacerdotes do Espírito Santo, convenceu o padre novato a juntar-se a ele no Gabão, em África. Finalmente o Padre Lefebvre concordou e juntou-se temporariamente aos Missionários do Espírito Santo, em 1932; foi imediatamente enviado para o Gabão, primeiro como professor de seminário, mas logo foi promovido a reitor. Após três anos de trabalho missionário difícil, ele fez a decisão de se dedicar permanentemente ao trabalho missionário e fez os votos perpétuos com os Missionários do Espírito Santo. Depois se tornou responsável por vários centros de apostolado, como Lambaréné, onde estabeleceu contatos com o famoso doutor Albert Schweitzer.

Mas as ruínas da guerra reclamaram sua volta à França, onde assumiu a direção do seminário espiritano de Mortain (1945–1947), na parte mais recôndita da Normandia.

Noviço espiritano

Nesse lugar, aprendeu com profunda alegria os princípios da vida espiritual, que lamentava não haver recebido de modo suficientemente didático em Roma. Sentiu-se cativado pelo amor que Deus tem aos homens, manifestado pela Encarnação e pela Paixão dolorosa do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Meditou e assimilou esta frase de São João, da qual tirou mais tarde seu lema episcopal: “Deus é caridade. Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco, em que Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele tenhamos a vida. (…) E nós conhecemos e cremos na caridade que Deus tem por nós.” (1 Jo. 4, 9 e 16). “Deus é caridade”. Pois bem, o que é próprio à caridade e ao amor é a entrega de si mesmo. Por isso, o espiritano Marcel Lefebvre, igual que o adolescente de outro tempo, se entregou às almas para atraí-las a Deus, para atraí-las a Jesus Cristo.

Missionário

Enviado ao Gabão, na África Equatorial Francesa, sob as ordens do Vigário Apostólico Dom Tardy, se dedicou à formação do futuro clero africano (1932–1938). Ao final de seu noviciado, o jovem padre Marcel Lefebvre foi nomeado primeiramente professor e depois diretor do seminário de Libreville, no Gabão. Nesse lugar, foi logo visto como alguém flexível e agradável, sorridente, firme em suas ideias, muito querido por seus alunos e apreciado pelos padres, manifestando desde o começo de sua vida missionária uma competência e um gosto particulares pela formação sacerdotal».

Quem diria que três de seus alunos chegariam a ser bispos? Segundo a opinião de um colaborador, Marcel Lefebvre era «firme, comedido, muito pessoal em suas apreciações e decisões, destacando-se desde o ponto de vista da organização e do equipamento material».

Apostolado na missão

Foi designado posteriormente superior da missão (1938–1945). Estando nesse cargo, fazia viagens pela região, dirimia os pleitos, construía e organizava. Sabia com precisão quais deviam ser suas prioridades:

em primeiro lugar os catequistas, cristãos exemplares que deviam formar outros verdadeiros cristãos; depois as escolas católicas, para formar futuros chefes de família e suscitar vocações sacerdotais, permitindo assim que se consolidasse uma cristandade».

Nesse momento, combatiam-se os bruxos e os missionários católicos tinham amplia vantagem sobre os ministros protestantes. Com efeito, até os infelizes anos da guerra, a Igreja da África crescia rapidamente. Mas, em 1945, Dom Lefebvre teve que abandonar esse continente.

Delegado Apostólico da África francesa

Após estes primeiros anos, foram confiadas responsabilidades cada vez mais importantes a Marcel Lefebvre. Foi chamado de volta a França e elegido reitor de um seminário em Mortain; mais tarde, o Papa Pio XII nomeou-o Vigário Apostólico de Dakar e foi assim consagrado bispo; no ano seguinte, 1948, o papa nomeou o bispo Dom Lefebvre Delegado Apostólico da África francesa (Marrocos, África Ocidental Francesa, África Equatorial Francesa e Madagascar), e concedeu-lhe o título de arcebispo.

Superior Geral dos Missionários do Espírito Santo

O Papa João XXIII, como o seu antecessor, acreditava que a perícia teológica, a experiência missionária, e a experiência em educação de Dom Lefebvre, eram de uma qualidade excecionalmente rara; Por isso o papa indicou-o para integrar a Comissão Preparatória do Segundo Concílio Vaticano, um órgão encarregado de definir a agenda do próximo, e bastante antecipado, concílio ecumênico. Os Missionários do Espírito Santo também estavam bastante impressionados com o trabalho do arcebispo e elegeram-no superior geral no seu Capítulo Geral de 1962.

Bispo de Tulle

Diretor em Mortain “Gostávamos dele,” recordaram seus alunos, “sentíamos que ele se encarregava de nós e que nos amava”. Inculcava princípios sólidos e advertia contra as tendências deletérias que se difundiam na Igreja do pós-guerra. Combatia especialmente o evolucionismo de Teilhard de Chardin, a ideia de penetrar e batizar o comunismo e o otimismo do Padre de Lubac em relação à salvação dos infiéis.

Dom Lefebvre e Pio XII

Dom Lefebvre ia a Roma anualmente. Ele se reunia com o secretário da Sagrada Congregação para a Propagação da Fé e tinha às vezes que ser insistente para conseguir ajudas financeiras para a missão.

Mas o mais importante era a visita ao papa. Pio XII lhe expressou seus temores de que os comunistas tomassem o controle da África, de modo parecido ao que havia ocorrido na China, de onde estavam sendo expulsos os missionários: “Prepare uma Igreja africana”, disse-lhe certa vez o Pontífice. Dom Lefebvre compartia essa preocupação. Por outro lado, quando informava o papa sobre sua ação, Pio XII se assombrava com o número crescente de padres, religiosos e religiosas de várias congregações da Europa e da América que Marcel Lefebvre havia conseguido trazer a Dakar e que, seguindo seu exemplo, os outros bispos haviam conseguido trazer a suas dioceses.

Idealismo romano e realidade africana

Certa vez, o arcebispo, falando sobre a realidade da Igreja africana, disse ao Sumo Pontífice: Santíssimo Padre, a Igreja africana ainda não pode crescer sozinha. Trago à África tantas congregações missionárias e docentes para acelerar o desenvolvimento desta Igreja da África. A África seguirá necessitando de missionários e da influência da Europa”. Contudo, essa não era a opinião geral que predominava em Roma…Pio XII”, disse depois, “era um homem ao qual ninguém se aproximava sem um profundo respeito. Mas ele sabia escutar e se estabeleceu entre nós uma profunda simpatia. Compreendia meu combate”.

O próprio Pio XII disse um dia a um visitante, o senhor Winckler:Viu o homem que acaba de sair? É Dom Lefebvre, o melhor dos meus delegados apostólicos”.

Depois da morte de Pio XII (1958), João XXIII o relevou de suas funções africanas, tanto diplomáticas como pastorais, e o nomeou bispo da pequena diocese de Tulle, na França (1962). Mas Marcel Lefebvre só esteve durante seis meses nesse lugar, porque foi então eleito Superior Geral da Congregação do Espírito Santo (1962–1968), que tinha naquele momento mais de cinco mil membros. Nesse ínterim, João XXIII o nomeou Assistente ao Trono Pontifício e membro da Comissão Central Preparatória do Concílio Vaticano II.

Dom Lefebvre participou ativamente no Concílio como Padre conciliar (1962–1965), destacando-se pela organização de um grupo de bispos decididos a fazer oposição à ação dos líderes da ala liberal.

Vaticano II

Dom Lefebvre estava agora no auge da sua carreira. No entanto, o Concílio Vaticano II preparava-lhe uma amarga deceção. A maioria dos textos que ele ajudou a escrever para o Concílio foram rejeitados de imediato e substituídos por versões mais novas, mais liberais e modernas. Em resposta, o arcebispo, juntamente com outros prelados confusos, formaram um grupo reacionário conservador chamado Coetus Internationalis Patrum do qual ele era presidente. Este grupo opôs-se essencialmente à introdução de tendências modernistas nos textos do Concílio.

Em fim, O Coetus não conseguiu vencer a luta contra estas reformas modernistas e Dom Lefebvre deixou o concílio desolado. Para além disso, os Missionários do Espírito Santo sob a liderança conservadora do arcebispo, praticamente forçaram a sua renúncia ao cargo de superior geral no Capítulo Geral de 1968 com o seu escarnio. Marcel Lefebvre tinha agora 63 anos de idade e apos uma vida inteira ao serviço da Igreja, planeava reformar-se.

Fraternidade São Pio X

Em 1968, deixou o cargo de Superior Geral, preferindo demitir-se antes que apoiar as reformas destrutoras da vida religiosa em sua Congregação, estando assim praticamente aposentado aos 63 anos de idade. Mas no ano seguinte fundou em Friburgo, na Suíça, um seminário internacional e depois uma congregação sacerdotal que, mesmo tendo sido aprovados pelo bispo local, não demoraram a se converter em um signo de contradição. Paulo VI disse sobre ele: “Dom Lefebvre é a cruz de meu pontificado”.

Depois das sanções do Vaticano contra sua Fraternidade (1975) e contra sua pessoa (1976), parecia que sua obra teria que viver às margens da Igreja. Contudo, a “Missa proibida” que celebrou em Lille, França, em agosto de 1976 ante 10.000 fiéis teve uma ampla repercussão em todo o mundo: popularizou sua imagem de “bispo de ferro”, defensor destemido da missa tradicional e opositor de todas as reformas eclesiásticas que esvaziavam os noviciados, os seminários e as igrejas.

Pela Missa de Sempre, coração da teologia e do apostolado

A Fraternidade põe no centro da formação dos futuros sacerdotes a devoção ao Santo Sacrifício da Missa e sua digna celebração segundo o rito tradicional codificado pelo Papa São Pio V. A Fraternidade não é uma congregação contemplativa, mas sim uma sociedade “essencialmente apostólica, porque o sacrifício da missa também o é” (Estatutos). Apoiando-se em sua experiência africana e nos frutos maravilhosos da missa, o arcebispo estava convencido de que “a missa é o coração da teologia, da pastoral e da vida da Igreja”. Nesta realidade ao mesmo tempo temporal e eterna do sacrifício do altar, realiza-se a consumação dos mistérios da Encarnação e da Redenção, a salvação das almas e a transformação espiritual, moral e inclusive física da sociedade.

Santidade sacerdotal

O padre, pelo caráter do sacramento da Ordem que está impresso em sua alma, é outro Cristo, para quem a celebração diária do Santo Sacrifício é a primeira atividade apostólica e uma incitação à imolação de si mesmo, condição de sua santificação. Por este motivo, a Fraternidade tem como fim primário a formação de sacerdotes. De forma semelhante, São Pio X, seu padroeiro, teve como preocupação primordial de seu pontificado a formação do clero segundo a integridade doutrinal e a santidade dos costumes.

Um breve relato da história da FSSPX pode ser lido em perguntas frequentes, portanto essa informação não se encontrará aqui. Porém, um detalhe deve ser acrescentado ao relato geral, no que se refere principalmente ao envolvimento de Dom Lefebvre no Coetus Internationalis Patrum. Durante o Concílio Vaticano II, uma amizade importante foi criada entre Marcel Lefebvre e António de Castro Mayer, bispo de Campos (Brasil). Estes dois partilharam ideias nas várias funções Coetus e mantiveram o contato durante muito tempo após o encerramento do concilio. Ambos recusaram implementar os ensinamentos modernistas do Vaticano II e em 1983 enviaram uma carta aberta ao papa, lamentando os inúmeros erros que pareciam infetar Roma. Quando Dom Lefebvre sagrou quatro novos bispos em 1988, Dom António de Castro Mayer participou como co-sagrante.

Peça chave da Fraternidade: o priorado

O fundador, que também foi o primeiro Superior Geral da congregação, reunia seus sacerdotes em retiros anuais e lhes explicava que os priorados, nos quais viviam em comunidade uma vida de oração, estudo e apostolado, eram bastiões que deviam irradiar a fé através de distintos campos de apostolado. Junto a estes priorados, a Fraternidade estabelece capelas, missões, escolas primárias e secundárias. Os padres são auxiliados em seu ministério pelos Irmãos da Fraternidade.

Graças a duas de suas irmãs, que eram religiosas, Dom Lefebvre fundou sucessivamente a congregação das Irmãs da Fraternidade São Pio X e um Carmelo, que rapidamente se propagou (Bélgica, França, Suíça e Estados Unidos).

Além disso, algumas congregações de religiosas, tanto docentes como hospitalárias, uniram suas atividades à dos padres da Fraternidade e outras associações de sacerdotes ou de religiosos fundadas com o apoio de Dom Lefebvre (comunidades beneditina, capuchinha e dominicana) se agruparam ao seu redor.

“A idade não diminui seu passo”

O arcebispo percorria o mundo para pregar a fé pura e íntegra, apoiar as famílias e alentar os fiéis. Conferia também o sacramento da Confirmação apesar do frequente descontento dos bispos locais.

Com 77 anos de idade, em 1982, renunciou às suas funções de Superior Geral da Fraternidade e transferiu o governo a seu sucessor, o Padre Franz Schmidberger. Esperou durante muito tempo que algum bispo se decidisse a assegurar depois de sua morte as confirmações e, principalmente, as ordenações sacerdotais, ou que, de uma forma mais duradoura, Roma voltasse a reconhecer a Fraternidade São Pio X e lhe desse um estatuto canônico apropriado, que concedesse uma suficiente liberdade de ação em relação às dioceses e, ao menos, um bispo membro da Fraternidade para conferir as santas ordens.

“Operação sobrevivência”

Mas seus esforços ante as autoridades romanas fracassaram no mês de maio de 1988. Devido a sua idade avançada e por não querer deixar órfãos a centenas de seminaristas e a milhares de fiéis, Dom Lefebvre não teve alternativa além de sagrar bispos, apesar da oposição do papa João Paulo II. Assim, em 30 de junho de 1988 sagrou, junto com Dom Antônio de Castro Mayer, quatro bispos em Ecône, que se tornaram seus sucessores no episcopado.

Sagrações episcopais

Em 1988, assegurou a perpetuação de sua obra de restauração do sacerdócio católico sagrando quatro bispos em Ecône, Suíça, apesar da proibição do papa João Paulo II. Por este motivo, incorreu na mais grave sanção eclesiástica, que ele considerou tão injusta como todos os intentos precedentes e cuja única meta era obrigá-lo a abandonar o bom combate da fé em nome de uma obediência mal compreendida.

Faleceu em Martigny, Suíça, em 25 de março de 1991, em uma profunda paz e orgulhoso “de haver transmitido o que ele mesmo havia recebido”, segundo a expressão de São Paulo (1 Cor. 15, 3) que ele pediu que fosse gravada em sua lápide.

Apesar das condenações romanas com que ele e sua Fraternidade foram dolorosamente sancionados por se negarem a aplicar a reforma litúrgica, Marcel Lefebvre seguiu adiante: “Obedecer”, disse, “seria colaborar com a destruição da Igreja”. Seu primeiro objetivo era formar padres cheios de zelo pela verdadeira doutrina e pela salvação das almas. Além de Ecône, fundou seu segundo seminário nos Estados Unidos (1974), o terceiro na Suíça alemã (1975), que mais tarde seria transladado à Alemanha (1977), o quarto na Argentina (1979), o quinto na França (1986) e o sexto na Austrália (1986).

Resignando-se a incorrer injustamente na pena de excomunhão, considerava que a situação de necessidade dos fiéis, causada pelo modernismo das autoridades eclesiais mais elevadas, legitimava as sagrações, às quais chamou de “operação sobrevivência”.

Faleceu em 25 de março de 1991, em perfeita paz de alma.

Obra salvadora

Qual é o “fio de Ariadne” da vida deste prelado não conformista que afirmava não haver obrado nunca segundo suas ideias pessoais? Que força movia este romano de espírito e de coração, acostumado à obediência, a enfrentar-se e a contradizer dois papas? Que elemento dava unidade a esta vida tão agitada? Qual era a fé deste homem que invocava o amor a Deus, a Jesus Cristo e à Igreja para realizar atos tão graves? Em lugar de considerá-lo como o “bispo rebelde”, não devemos vê-lo como um homem conduzido e movido por um desígnio providencial para uma obra salvadora?

Tradidi quod et accepi

Dom Lefebvre, depois de ter conduzido a FSSPX durante mais de 20 anos, morreu a 25 de março de 1991. Foi enterrado numa cripta sob e seu amado seminário em Econe, onde hoje podem ser visitados os seus restos mortais. No seu túmulo estão marcadas as palavras do apóstolo São Paulo: “Tradidi quod et accepi” (Eu transmiti aquilo que recebi — I Cor. 15:3).

Pela glória da Santíssima Trindade, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, por devoção à Santíssima Virgem Maria, por amor à Igreja, por amor ao Papa, por amor aos bispos, aos sacerdotes e a todos os fiéis, pela salvação do mundo e pela salvação das almas, guardem este testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo! Guardem o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo! Guardem a Missa de Sempre!” — Dom Marcel Lefebvre

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Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

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