Eduardo Moura
7 min readDec 15, 2020

Sobre o Jejum das Quatro Têmporas, com ênfase no Advento.

Caros Católicos, dentro do ciclo que chamamos de calendário litúrgico, a Igreja Católica nos convida a celebrar os mistérios divinos. Na festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, celebrada por nós no último domingo, dá-se o início de um novo ciclo, e, após a semana em que vivemos o mistério de Cristo Rei, inicia-se o Tempo litúrgico do advento.

Prólogo

O surgimento desse costume tão benéfico para o Corpo Místico de Nosso Senhor, remonta ao período de evangelização e cristianização das culturas pagãs. Nas festas dos povos bárbaros que celebravam as passagens das estações, a Igreja muito prudente, observando que a moralidade estava em decadência nessas festividades, resolveu cristianizar aquele costume para o bem das almas, como se procede isso ? “ Esse processo se baseia em pegar algo pertencente a realidade daquela comunidade, nesse caso a festa, e assim tornar ela algo benéfico para a salvação das almas, desse modo se desenvolveu o Jejum das têmporas.”

Assim diz o Senhor dos Exércitos: O jejum do quarto, e o jejum do quinto, e o jejum do sétimo, e o jejum do décimo mês será para a casa de Judá gozo, alegria, e festividades solenes; amai, pois, a verdade e a paz.

Zacarias 8:19

As quatro Têmporas

  • Quaresma — marcando o início do Outono. Entre o primeiro e o segundo domingo da Quaresma.
  • Pentecostes — marcando o início do Inverno. Entre Pentecostes e o domingo da Santíssima Trindade.
  • São Miguel —marcando a passagem da Primavera. Na terceira semana de Setembro, geralmente depois da festa da exaltação da Santa Cruz , dia 14 de Setembro.
  • Advento — Marcando o anúncio da chegada do Verão. No terceiro ou quarto domingo do Advento, depois da festa de Santa Luzia.

Instruções

Normalmente nós fazemos o jejum na semana da passagem da estação em 3 dias: na Quarta-feira, que foi o dia em que o Senhor foi traído por Judas Iscariotes. Na Sexta-feira, que foi o dia da crucificação. No Sábado, que foi o dia em que ele passou no túmulo e também o dia em que os Apóstolos e Nossa Senhora ficaram de luto. (O Jejum CIC —N•1387,1434,1438,2043.)

Referente ao Advento

Chama-se Advento (que significa vinda) o tempo de quatro semanas que precedem a solenidade do santo Natal de Nosso Senhor, porque nesse tempo a Igreja nos prepara, por meio de sacrifícios e da liturgia, para celebrarmos dignamente a comemoração da primeira vinda de Jesus Cristo ao mundo, por meio de seu nascimento temporal.

A Igreja propõe ao povo cristão refletir acerca dos seguintes temas:

1. As promessas que Deus fizer de mandar o messias para a salvação do mundo;

2. Os desejos dos antigos patriarcas, que suspiravam por sua vinda;

3. A pregação de São João Batista, que exortava o povo a fazer penitencia e se dispor a receber o messias que deveria vir;

4. A última vinda de Cristo em sua glória, para julgar os vivos e os mortos.

Para correspondermos ao que a igreja espera de nós no tempo do advento, devemos fazer as seguintes coisas:

Meditar com fé viva e amor ardente a encarnação do Filho de Deus;

Reconhecer nossa miséria e a suma necessidade que temos de Nosso Senhor Jesus Cristo;

Pedir-Lhe instantemente que venha nascer e crescer espiritualmente em nós com sua graça;

Prepara-lhe o caminho com obras de penitência e especialmente com participação frequente nos santos Sacramentos;

Pensar frequentemente na última e terrível vinda de Nosso Senhor, e, com os olhos nela, conformar nossa vida com a sua vida santíssima, a fim de podermos participar de sua glória.

O jejum das quatro têmporas:

Os jejuns das têmporas são celebrações ligadas às mudanças das estações como já foi abordado e instituídas com o desejo de pedir santificação do ano civil. Estes momentos eram considerados tempos especiais de oração e piedade, durante os quais ocorriam a ordenação de sacerdotes e a Igreja recomendava aos católicos o jejum e a abstinência de carne.

Além disso, pedia-se a conservação dos frutos da terra, prestavam-se agradecimentos pelos frutos já concedidos e pedia-se a Deus por santos e dignos ministros.

Dentro do advento, as têmporas ocorrem na terceira semana deste tempo litúrgico, após o chamado Domingo Gaudete, o domingo da alegria como é conhecido, e também pela aproximação do nascimento de Nosso Senhor.

Os jejuns, que consistem em uma única refeição completa e duas pequenas refeições e na abstinência de alimentos proibidos, são feitos da seguinte forma dentro da terceira semana do advento:

Na Quarta-feira, recordando o dia em que Nosso Senhor foi traído por Judas Iscariotes;

Na Sexta-feira, por ser o dia em que se recorda a crucificação de Cristo;

O Sábado, por ser o dia que Cristo passou no túmulo e os Apóstolos e Nossa Senhora ficaram de luto por sua morte.

Apesar da diminuição da influência deste piedoso costume, não houve uma abolição formal de sua prática de modo algum.

No Missal de 1962, as Têmporas eram observadas como “férias de segunda classe”, dias feriais de especial importância, que se sobrepunham inclusive a certas festas de santos. Cada dia tinha a sua Missa própria.

Hoje, no entanto, ficou sob o encargo das conferências episcopais e das dioceses determinar o tempo e o modo de celebração das Quatro Têmporas, de acordo com prescrição da Sagrada Congregação para o Culto Divino. Em 1966, a Constituição Apostólica Paenitemini, do Papa Paulo VI, confirmou todas as sextas-feiras do ano como penitenciais, mas, ao mesmo tempo, os jejuns das Têmporas deixaram de ser obrigatórios.

O jejum das quatro têmporas como mortificação dos nossos sentidos e união às dores de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe:

Além de dedicar a prática das quatro têmporas às intenções citadas anteriormente, a penitência no tempo do advento serve como instrumento de mortificação dos sentidos e reparação às faltas cometidas contra os corações de Jesus e Maria.

Estes sacrifícios aos quais nos dedicamos não tem como objetivo a violência contra o próprio corpo por si mesma, mas sim a união aos sofrimentos e sacrifícios de Nosso Senhor e sua Santa Mãe, a Virgem Maria, desejando também desgravar as faltas com as quais a humanidade os ultraja.

Além disso, podemos frequentemente unir os sacrifícios às orações, dedicando-os a alguma intenção especial. Santo Agostinho, bispo e doutor da igreja afirma que “Deste modo, a nossa oração, feita de humildade e caridade, no jejum e na esmola, na temperança e no perdão das ofensas, oferecendo coisas boas e não restituindo as más, afastando-se do mal e praticando o bem, procura e alcança a paz. Com as asas destas virtudes, a nossa oração voa com segurança e é levada mais facilmente até ao céu, onde nos precedeu Cristo, nossa paz”.

Se alguém quer vir após mim, renegue -se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me. (Lc. 9,23).

Unir-se à Igreja, ao seu ensinamento e mortificar-se é, portanto, obedecer à condição que Nosso Senhor mesmo apresenta para aqueles que desejam servi-lo. Não se chega à páscoa eterna sem unir-se a Cristo no calvário desta vida, tomando a cruz de cada dia.

Quão grade amor tem Deus pela humanidade, a tal ponto de fazer-se homem por nossa redenção. Que o mesmo Senhor nosso nos guie neste tempo de preparação e penitência rumo à festa de sua natividade.

Aproveite-nos, ó Deus, a participação nos vossos mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

(Oração após a comunhão do primeiro domingo do advento)

A mortificação do corpo, é um benefício para alcançar as virtudes, desenvolver os temperamentos e fortalecer o espírito —Escritos do Bispo de Genova, Tiago de Voragine

“Resistirmos aos efeitos provocadas pelas estações, “pois a primavera é quente e úmida, o verão quente e seco, o outono frio e seco, o inverno frio e úmido. Jejuamos na primavera para temperar em nós o humor nocivo que é a luxúria; no verão para castigar o calor prejudicial que é a avareza; no outono para temperar a secura do orgulho; no inverno para atenuar o frio da infidelidade e da malícia.”

Atenuarmos as tendências desordenadas de cada temperamento, pois “o sangue aumenta na primavera, a bílis no verão, a melancolia no outono e a fleuma no inverno.

Consequentemente, jejua-se na primavera para debilitar o sangue da concupiscência e da louca alegria, pois o sanguíneo é libidinoso e alegre.

No verão, para enfraquecer a bílis do arrebatamento e da falsidade, pois o bilioso é por natureza colérico e falso.

No outono, para acalmar a melancolia da cupidez e da tristeza, pois o melancólico é por natureza invejoso e triste.

No inverno, para diminuir a fleuma da estupidez e da preguiça, pois o fleumático é por natureza estúpido e preguiçoso.”

Adquirirmos as virtudes próprias de cada idade da vida, pois “a primavera relaciona-se à infância, o verão à adolescência, o outono à maturidade ou idade viril, o inverno à velhice.

Jejuamos então na primavera para conservar a inocência de crianças; no verão para consolidar a força, evitando a incontinência; no outono para recuperar a juventude através da constância e ratificar a maturidade através da justiça; no inverno para ficar velhos com prudência e honestidade e para pagar as ofensas que fizemos ao Senhor nas outras idades.”

Obs: Vossa Santidade Papa Paulo VI, retirou a obrigatoriedade do jejum das têmporas, ele aboliu em 1966. Porém é um costume bastante antigo da igreja, realize uma penitência em favor dos desagravos cometidos contra Nosso Senhor e sua Santa Igrejas.

Notas:

  • Salusincaritate — O Jejum
  • Apostolado — RomanaEcclesia
  • Jacopo de Varazze, Legenda áurea: vidas de santos. Trad. de Hilário Franco Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, pp. 236–238.
  • Catecismo da Igreja Católica —sobre a penitencia e o jejum.

Eduardo Moura
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Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

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