Sobre o [Erro dos Carismáticos]

Eduardo Moura
5 min readJan 1, 2022

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Porque o SENHOR Altíssimo olha para o humilde, mas o soberbo, ele o conhece de longe.

Caros católicos, não desejo aqui denegrir ou ridicularizar o conhecido “movimento carismático”, de maneira nenhuma desejo ofende-los, mas sim, desejo alertar todos os católicos para que entendam que algumas coisas precisam ser bem esclarecidas, “não devemos desejar possuir dons espirituais ou místicos… mas sim, devemos seguir a via comum, como ensina Santa Teresa ‘Ávila, a maior mística da Igreja.” (Devemos rezar por todos, para que se convertam cada vez mais).

SOBRE OS CARISMAS

Segundo os teólogos, Deus concede o dom do carisma com muita parcimônia; de modo que se deve proceder com muita prudência, antes de concluir que alguém é possuidor de algum carisma; maior prudência ainda é exigida da própria pessoa que presume ser possuidora de algum deles. Os autores de teologia ascética e mística, seguindo o ensinamento de São João da Cruz, aconselham a não se desejar nem pedir graças e dons extraordinários: deve bastar-nos a via normal; pois esses dons não são necessários para alcançar a salvação e a perfeição cristã, e até, ao contrário, por causa de nossas más inclinações, podem servir de obstáculo a elas. Por outro lado, é muito frequente o demônio imiscuir-se nessas vias extraordinárias, de maneira que nem sempre é fácil distinguir o que vem do Espírito de Deus e o que vem do espírito das trevas. (Anjos e Demônios — Gustavo Antônio e Luiz Sérgio)

Por isso, escreve São João da Cruz: “O demônio fica muito satisfeito quando percebe que uma alma deseja receber revelações ou sente inclinações por elas, visto que neste caso lhe oferecem muitas ocasiões e possibilidades de insinuar erros e destruir nelas a verdadeira Fé”.

Algo bastante comum nesses movimentos e comunidades carismáticas, é o desejo que vários membros antigos e recentes possuem, eles anseiam por obter esses dons espirituais, que Deus concede sim, porém, com bastante prudência. Nenhum santo que recebeu esses dons o desejou antes, isso deve ficar muito claro, São Francisco Xavier, o maior exemplo que podemos citar sobre o dom de línguas, jamais o quis, mas sim, desejava pregar o Evangelho para todas as nações, por contributo de sua humildade e limitação, Deus lhe concedeu o dom de línguas.

Como diz Santa Teresa d’Ávila: “A humildade é a verdade”, a humildade cinge o coração do homem, é ela que abre espaço para que todos os dons por contribuição da graça de Deus possa operar no homem, sem humildade nada somos, nada podemos fazer ou desejar receber de Deus. “Bem-aventurados os mansos e humildes, pois eles herdarão a terra (Mt 5,5).

SOBRE O DOM DE LINGUAS — PART 1

Objeção 1: Em At. 2, 13 o texto parece indicar também a existência da glossolalia (idioma sem sentido, ininteligível) por causa do comentário de alguns que estavam presentes.

Resposta: Em At 2,13 lemos: “Outros, porém, escarnecendo, diziam: Estão todos embriagados de vinho doce”. Este versículo aparece logo após o texto sagrado testemunhar que os apóstolos e discípulos estavam falando na língua de outros povos, de tal forma que eram entendidos por eles (vs 1–12). O próprio texto diz que por causa da solenidade de Pentecostes “achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu” (vs 5). Logo, seria totalmente normal que um judeu árabe não entendesse o que um dos apóstolos estava falando em grego, ainda mais sabendo que a língua deles era o aramaico. De outra forma, poderia um judeu grego estar ouvindo Tomé falando em sírio, sabendo que sua língua natal era o aramaico. Ora, quem iria pensar que aqueles homens simples e sem instrução estariam falando outros idiomas? Claro que achariam que estavam bêbados, e não sob a ação miraculosa do Espírito Santo.

Objeção 2: São Paulo em 1Cor 14,1–4 reconhece existir um tipo de dom de línguas que é ininteligível aos homens que é usado para se falar somente a Deus.

Resposta: São Paulo não diz que o dom de línguas é ininteligível aos homens, mas que “ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito” (cf. 1Cor 14,2). Santo Tomás comentando este trecho ensinou: “Também é falar em língua o falar de visões somente, sem explicá-las. […] Mas o que só a Deus é falado, compreende-se que o próprio Deus fala. Pelo qual disse: Mas o Espírito de Deus fala mistérios, isto é, coisas ocultas (1Cor 14,2). Porque não sereis vós que falareis, senão o Espírito de vosso Pai é que falará em vós. (Mt 10,20).” Logo, quando se fala a Deus em línguas, fala-se coisas misteriosas e não palavras sem sentido.

SOBRE O DOM DE LÍNGUAS — PART 2

Objeção 3: O dom de línguas é falar em línguas ininteligíveis, tanto que S. Paulo ensina que este dom é complementado por outro que interpreta sua mensagem.

Resposta: Quando Paulo fala que deve haver interprete, a palavra para “interprete” aqui (1 Cor. 12,10; 14,26–27) é “diermeneutes” (διερμηνευτής), que, no grego, refere-se a interpretação de um idioma. Ainda, S. Tomas ensinou que o falar em línguas é também o falar coisas misteriosas, logo é preciso que tal mistério também seja explicado para que traga proveito a todos.

Objeção 4: Falar em línguas é o mesmo que falar na língua dos anjos.

Resposta: Essa objeção tem origem numa especulação indevida das seguintes palavras de S. Paulo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine” (1Cor 13,1). S. Tomas de Aquino comentando 1Cor 13,1–3 nos ensina: “[…] Vejamos agora o que se entende por ‘língua dos anjos’, pois sendo a língua um membro do corpo, a cujo uso pertence o dom de língua, que às vezes se chama ‘língua’, nem uma coisa nem outra parece ter a ver com os anjos, que não possuem membros. Pode-se dizer então que por ‘anjos’ deve-se entender os homens com ‘ofício de anjos’, isto é, os que anunciam as coisas divinas a outros homens”. O doutor angélico nos ensina que falar na língua dos anjos é falar em termos mais elevados. É como se o Apóstolo tivesse dito : “ainda que eu falasse a língua dos simples e dos doutores”. S. Paulo refere-se ao nível do aprofundamento do anúncio e não a um pseudo-idioma dos anjos.

UM CONSELHO MUITO PRUDENTE DO GRANDE DOUTOR DA ORAÇÂO

Desse modo, escreve Santo Afonso de Loyola— Doutor da Igreja, em sua regra para o discernimento dos espíritos, ele diz: “É próprio do espírito mau, que se disfarça em anjo de luz, introduzir-se em conformidade com a alma devota e sair com proveito dele, isto é, suscitar pensamentos bons e santos, conformes com a tal alma justa, e depois procurar pouco a pouco atingir seus objetivos, atraindo a alma a seus enganos secretos e perversas intenções”, ou seja, o demônio faz o homem pensar que está levando uma vida muito santa aos olhos de Deus, e por isso, receberia tais “dons extraordinarios” quando na verdade está se enchendo de orgulo e de pensamentos soberbos para com os irmãos, assim ele decaí na fé e perde o estado de graça. (Discernimento dos Espíritos, 4o. regra).

Salve Maria!

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Eduardo Moura
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Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

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