Se Cristo sabia que ele era Deus
Caros católicos, eis mais uma resposta sobre a Santa fé, contra os que duvidam da divindade de Nosso Senhor, assim como de sua legítima consciência como Verdadeiro Deus e Homem.
Cristo sabia que era Deus?
O Magistério nos ensina com palavras infalíveis e as Escrituras o atestam sem margem a dúvidas: Cristo não só declarou sê-lo [DEUS] como também se comportou como Deus, não apenas fazendo milagres, pregando, convertendo os homens, mas, acima de tudo, perdoando os seus pecados.
Outrossim, o campo da cristologia também atesta isso. Embora seja graças à aplicação do método histórico através da leitura dos evangelhos a colocar perguntas sobre Jesus Cristo, sobre a sua consciência, na qual ele tinha conhecimento de sua própria divindade, como da própria vida e da própria morte salvífica, da própria missão, da própria doutrina e também do projeto de fundar a Igreja, como a continuação do seu projeto salvífico para todos os homens de boa vontade.
Na verdade, não é simplesmente fácil dar uma resposta a essa questão. De qualquer forma, como aconselha o Apóstolo 1Pedro 3,15, devemos estar sempre prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que no-la pede. E a verdade é que não poderíamos ter confiança em um salvador que ignorasse ser tal ou não quisesse sê-lo, pois é evidente que Nosso Senhor não somente sabia como também provou ser Deus!
Lendo e sendo orientado pelo sagrado Magistério, a respeito da Bíblia, resulta bastante evidente que Jesus tinha consciência da relação filial com o Pai: o seu comportamento, suas palavras traduzem uma autoridade que supera aquela dos antigos profetas e que pertence unicamente a Deus. Essa sua autoridade vinha da sua relação singular com Deus, que ele chama de “meu pai”. Portanto, tinha consciência de ser Filho de Deus e, nesse sentido, de ser ele mesmo Deus. Isso se fundamenta em diferentes passagens bíblicas. Podemos citar, por exemplo João:
10,30: eu e o Pai somos uma coisa só;
10,38: o Pai está em mim e eu no Pai.
Esse “eu” tem a mesma dignidade e Yahweh, como aparece em Êxodo 3,14.
[Eu Sou]
Outra evidência a respeito da consciência de Jesus e de sua missão salvífico foi: anunciar o Reino de Deus e torná-lo presente na sua pessoa, nas suas ações e palavras para que o mundo fosse reconciliado com Deus. Jesus tinha pleno conhecimento de sua missão e, portanto, aceitou a vontade do Pai: veio dar a vida para a salvação de todos; sabia ser enviado por Deus para servir e dar a própria vida por muitos, como diz Marcos 14,24.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 5, 17–26)
Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do Senhor o levava a curar. Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo. Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio da assembleia diante de Jesus. Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”.
Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: “Quem é este que assim blasfema? Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: “Por que murmurais em vossos corações? O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda’? Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar pecados – disse ao paralítico – eu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para casa”. Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa, louvando a Deus. Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!”
O Evangelho nos relata o tocante episódio em que Jesus perdoa os pecados e restitui a saúde a um paralítico, descido pelo teto por um grupo de amigos cheios de fé. Contemplar esta cena tão cheia de significado adquire uma especial relevância no tempo do Advento, pois constitui uma oportunidade propícia para nos desfazermos de um erro muito comum, estendido hoje entre não poucos católicos, mas cuja origem se remonta a uma heresia protestante do séc. XIX segundo a qual, após a Encarnação, Cristo teria de algum modo perdido a consciência de ser o Filho natural de Deus. Para autores como Renan, Harnack, Stapfer e Weiss, v.gr., Jesus não se considerava nada mais do que um homem superior aos outros, unido ao Pai por um vínculo especial de dependência e amor, mas nunca o Filho natural de Deus [1]. [RESPOSTA] – Sabemos, porém, que essa doutrina não só não corresponde à fé que a Igreja sempre professou como também se opõe, de modo flagrante, ao testemunho das SS. Escrituras. O Magistério da Igreja, com efeito, afirmou solenemente no Concílio de Calcedônia, celebrado em 451, que diz:
“um só e o mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na sua divindade e perfeito na sua humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, composto de alma racional e de corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade, semelhante em tudo a nós, menos no pecado (cf. Hb 4, 15), gerado do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nestes últimos dias, em prol de nós e de nossa salvação, gerado de Maria Virgem, a Deípara, segundo a humanidade” (DH 301).
“um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, unigênito, reconhecido em duas naturezas, sem mistura, sem mudança, sem divisão, sem separação, não sendo de modo algum anulada a diferença das naturezas por causa da sua união, mas, pelo contrário, salvaguarda- da a propriedade de cada uma das naturezas e con- correndo numa só pessoa e numa só hipóstase; não dividido ou separado em duas pessoas, mas um único e o mesmo Filho, unigênito, Deus Verbo, o Senhor Jesus Cristo, como anteriormente nos ensinaram a respeito dele os Profetas, e também o mesmo Jesus Cristo, e como nos transmitiu o Símbolo dos Padres (DH 302).
Denzinger – Hünermann., Compêndio dos Símbolos e Declarações de Fé e Moral, pág. 113,. n. 301–302
Também consta claramente nas Escrituras que Jesus declarou inúmeras vezes ser o Filho de Deus, condição da qual, portanto, não podia ser “inconsciente”. Assim, v.gr., o vemos afirmar sua superioridade sobre reis como Davi (cf. Mt 22, 43ss), sábios como Salomão (cf. Mt 12, 42), profetas como Jonas, ascetas como João Batista (cf. Mt 11, 11) e inclusive sobre todos os anjos (cf. Mt 13, 41; 16, 27), rebaixados à condição de servos seus (cf. Mt 4, 11; Mc 1, 13). Afirmou estar acima tanto do Templo de Jerusalém, de cujos impostos estava isento justamente por ser Filho do Senhor do Templo (cf. Mt 12, 6; 17, 24–27), quanto da própria Lei mosaica e dos seus preceitos mais sagrados, como o do descanso sabático (cf. Mt 12, 8). Além disso, são constantes as declarações em que Ele se atribui a si mesmo poderes e atributos exclusivos de Deus: a) o seu poder legislativo se estende à totalidade da Lei, que Ele faz questão de aperfeiçoar (cf. Mt 5, 21.27.31.33 etc.); b) o seu poder judicial se funda em sua prerrogativa de Juiz de vivos e mortos (cf. Mt 7, 22s; 13, 37–42; 16, 27; Lc 12, 35–40; 13, 26s etc.); c) o seu poder santificador, enfim, abrange explicitamente a faculdade de perdoar pecados (cf. Mt 6, 9; Lc 7, 48 etc.), coisa que, como reconhecem escandalizados os próprios fariseus, é exclusiva de Deus: “Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” [2].
Diante de tão claros e evidentes testemunhos, abalizados pelo Magistério infalível da Igreja Católica, preparemo-nos em todos os Adventos para a vinda daquele que, muito mais do que um simples “fundador” de um movimento religioso, “já antes do princípio do mundo”, como Deus de infinita majestade, “nos abraçou no seu infinito conhecimento e eterno amor; Amor que Ele demonstrou palpavelmente e de modo verdadeiramente assombroso assumindo a nossa natureza em unidade hipostática; donde segue, como ingenuamente nota Máximo de Turim, que ‘em Cristo nos ama a nossa carne’” [3], carne que, unida à divina Pessoa do Verbo, queremos neste próximo Natal adorar com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças, com a particular intenção de reparar as gravíssimas injúrias, blasfêmias e irrisões com que ano após ano, nesta data santa, tantos homens o desprezam, ridicularizam e escarnecem, cegos para a verdade de que só Ele pode e tanto deseja, se se converterem, dizer-lhes: “Teus pecados estão perdoados”, só Deus perdoar os nossos pecados, portanto, seria ingênuo e inconcebível acreditar em um homem que perdoa os pecados sem ter pleno conhecimento do seu poder, ele seria um simples “soberbo”, assim como, não deveríamos acreditar em alguém que prega algo sem praticar e sem possuir plena convicção de sua missão.
Viva Cristo Rei!
Referências
Cf. F. Vizmanos e I. Ruidor, Teología fundamental para seglares. Madrid: BAC, 1963, p. 359, n. 590.
Cf. Id., pp. 362–364, nn. 594–596.
Pio XII, Encíclica “Mystici Corporis”, de 29 jun. 1943, n. 74 (AAS 35 [1943] 229–230).
Cf. Denzinger – Hünermann., [Concílio de Calcedônia] – Compêndio dos Símbolos e Declarações de Fé e Moral, pág. 113,. n. 301 – 302