ORDEM

Eduardo Moura
11 min readOct 21, 2021

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Os Santos Padres preferiram adotar este termo, de sentido genérico, para melhora indicarem a dignidade e grandeza dos ministros de Deus. Realmente, se a tomarmos em sua própria acepção, “ordem” é uma composição de coisas, umas superiores e outras inferiores, mas de tal modo acomodadas entre si, que permanecem, numa relação reciproca: Assim, havendo neste ministério várias categorias e funções, que se distribuem todas numa determinada classificação, houve muito acerto e vantagem em dar-se-lhe o nome de “Ordem”.

  • Conc. Trid. XXIII de Ordine cap. 1 can. 3 (dez 957, 963).

“O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando virdes o padre, pensai em Nosso Senhor Jesus Cristo.” — São João Maria Vianney

POR QUE A ORDEM É UM VERDADEIRO SACRAMENTO

Que a Sagrada Ordenação pertence aos Sacramentos da Igreja o Santo Concílio de Trento* já o comprovou por uma argumentação já alegada repetidas vezes; Sacramento é o sinal de uma coisa sagrada. Ora, o rito exterior da Ordenação assinala a graça e o poder que confere ao ordinando. Logo, é absolutamente lógico concluir que a Ordem tem o caráter de verdadeiro Sacramento, no sentido próprio da palavra.
Por esse motivo, quando entrega ao ordinando o cálice com vinho e a patena com o pão, o Bispo pronuncia as seguintes palavras: “Recebe o poder de oferecer o Sacrifício, etc.”. Consoante o que sempre ensinou a Santa Igreja, estas palavras, ditas na entrega da matéria, conforme o poder de consagrar a Eucaristia, e imprimem na alma um caráter particular, ao qual está ligada a graça necessária para o exercício exato e legítimo desse ministério. A este ponto alude o Apóstolo nas palavras seguintes: “EU te exorto a que faças reviver a graça de Deus, que em ti está, pela imposição das minhas mãos; pois que Deus não nos deu o espírito de temor, mas o de força, de amor e sobriedade”. (2 Tm 1, 6–7).

OS VÁRIOS GRAUS DE ORDEM DESTE SACRAMENTO

Servindo-nos das palavras do Sagrado Concílio, dizemos que o exercício de tão sublime sacerdócio é uma função divina. Ora, para ser desempenhada com mais dignidade e reverência, convinha haver, na ótima organização da Igreja, várias e diversas ordens de ministros que, por ofício, servissem ao sacerdócio, e de tal modo distribuídos que, após a recepção da tonsura, subissem das Ordens Menores para as Maiores.
Devemos ensinar que, na constante tradição da Igreja, todos esses graus de Ordem perfazem um setenário, e seus nomes são os seguintes: ostiário, leitos, exorcista, acólito, subdiácono, diácono, sacerdote.
Com muito acerto, foi fixado esse número de ministros, como podemos demonstrá-los, pelo ministérios, que parecem necessários no Sacrossanto Sacrifício da MIssa, na consagração e administração da Eucaristia, por cuja causa foram principalmente instituídos.
Destas Ordens, umas mãos são maiores, ditas também Ordens Sacras, e outras são menores. As Ordens Maiores ou Sacras são: presbiterato, diaconato, subdiaconato. Às Ordens menores pertecem aos acólitos, exorcistas, leitores, ostiários. De cada uma dessas Ordens direi algumas palavras, para que como diz o Catecismo Romano, os párocos e qualquer leigo católico, tenham os elementos necessários à instrução daqueles que, na sua opinião, devem receber alguma Ordem em primeiro lugares e ensinamentos catequéticos aos leigos.
-Con. Trid. XXIII, de Ordine, cap. 2 (Dez 958, 962).

Com a Constituição Apostólica “Sacramentum Ordinis*, de janeiro de 1948, Pio XII (Papa), dirimiu todas as controvérsias que dividiam os teólogos a respeito da matéria e forma do sacramento da Ordem. Diz ele no n. 5: “Na ordenação de Diáconos a matéria é a única imposição da mão do BISPO que ocorre neste rito. A forma consta das palavras da ‘Prefação”, sendo essenciais e, por isso, requeridas para a validade, as seguintes: “Emitte in eum, quaesumus, Domine, Spiritum Sanctum, quo in opus ministerii tui fideliter exsequendi septiformis gratiae tuae munere roboretur”. — Na ordenação de Presbítero a matéria é a primeira imposição das mãos do Bispo que se faz em silêncio… A forma consta das palavras da “Prefação”, sendo essenciais e, por isso, requeridas para a validade, as seguintes: “Da quaesumus, omnipotens Pater, in huncfamulum tuum Presbyteri dignitatem; innova in visceribus eius spiritum sanctitatis, ut acceptum aTe, Deus, meriti munuso obtineat censuramque morum exemplo suae conversationis insinuet”. — Finalmente na Sagração Episcopal a matéria é a imposição das mãos feita pelo Bispo SAGRANTE. A forma consta das palavras da “Prefação”, sendo essenciais e, por isso, requeridas para a validade as seguintes: “Comple in Sacerdote tuo ministerii tui summam, et ornamentis totuis glorificationis instructum caelesti unguenti rore sanctifica”.

PRIMEIRA TONSURA

Vamos começar pela Primeira Tonsura. Diremos que é uma espécie de preparação para receber as Ordens. Assim como os exorcismos preparam o homem para o Batismo, e os esponsais para o Matrimônio: assim também o corte do cabelo é uma consagração a Deus, que lhe franqueia, por assim dize, o caminho para o Sacramento da Ordem.
A Tonsura exprime quais predicados deve ter quem deseja ordenar-se. O nome de clérigo, que desde logo lhe é imposto, quer dizer que terá doravante o Senhor por sorte e partilha, assim como O tinham, entre os Hebreus, aqueles que estavam ligados e consagrados ao culto divino. O Senhor proibiu que, na Terra Prometida, lhes fossem dado algum quintão, porquanto afiançava: “Eu serei tua partilha e herança “. Essas palavras se refere a todos os fiéis em geral, mas aplica-se em sentido mais particular àqueles que se consagram ao serviço de Deus.
Corta-se o cabelo na forma e semelhança de uma coroa, que deve ser conservada, e mais tarde ampliada em sua circunferência, todas as vezes que alguém passar a um grau mais alto e Ordem. Ensina a Igreja que tal costume é de Tradição Apostólica, pois o costume de se fazer tonsura já é mencionado por São Dionísio Areopagita, Santo Agostinho, São Jerônimo, Padres muito respeitáveis pela sua antiguidade e pela autoridade de sua doutrina.
Corre uma tradição de que o Príncipe dos Apóstolos foi de todos o primeiro a introduzir esse costume, em recordação da coroa de espinhos posta na cabeça de Nosso Senhor. Assim, que os ímpios haviam inventado, para humilhação e sofrimento de Cristo, deviam os Apóstolos usar como sinal de honra e glória, enquanto davam também a entender a obrigação, que aos ministros da Igreja incumbe, de procurarem tornar-se em tudo, uma imagem e semelhança de Cristo Nosso Senhor.
Todavia, na opinião de outros, esse distintivo denota a régia dignidade que, antes de tudo, parece reservada aos que são chamados à sorte do Senhor. Sem dificuldade, somos levados a crer que aos ministros da Igreja compete, de modo particular e mais apropriado, o que São Pedro atribuía ao povo fiel: “Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, um povo santo”.
Sinal da vida perfeita Não falta quem diga que o círculo, a mais perfeita das figuras geométricas, simboliza a vocação do clérigo a uma vida mais perfeita, o menosprezo das coisas mundanas, e a renúncia aos cuidados e vaidades da vida; o que se expressa no corte do cabelo, como se fosse algo de supérfluo no corpo humano.
- (Nm 18, 20), (1Pd 2,9: cfr. Ex 19,6).

Isto na Idade Média. Desde muito, a Igreja já não admite candidatos que só queiram contentar-se com os graus inferiores da Ordem. Na recepção das primeiras Ordens, há o compromisso moral de se chegar também até o presbiterato, não sobrevindo nenhum impedimento ou irregularidade. O clérigo que também que quisesse receber as Ordens subsequentes, seria reduzido ao estado de leigo.
Do grego: Klêros. — O termo “Primeira Tonsura” refere-se às ampliações da Tonsura nas Ordens Maiores, principalmente no Episcopado.

ORDENS MENORES

Depois da primeira Tonsura, o primeiro passo costuma ser para a Ordem de Ostiário, cujo ofício era guardar as chaves e a porta do templo, e afastar do templo aqueles que estavam interditos de entrar nele.
Assim também ao Sacrifício da Missa, com a obrigação de atender a que ninguém se aproximasse demais do altar, e perturbasse o sacerdote na celebração dos Sagrados Mistérios. Estava ainda incumbido de outros encargos, conforme se deduz dos ritos próprios de sua Ordenação.
Realmente, quando o Bispo toma as chaves, que estão sobre o altar, para as entregar a quem vai ordenar-se ostiário, profere as seguintes palavras: “Comporta-te como quem há de prestar constas a Deus das coisas que são fechadas com estas chaves”.
Na Igreja Primitiva, era muito elevada a dignidade desta Ordem. Chegamos a essa conclusão pelo costume que ainda hoje se conserva na Igreja. O cargo de tesoureiro, que era ao mesmo tempo guarda da sacristia, estava confiado aos ostiários; ainda agora é um dos cargos mais honrosos da Igreja.

LEITOR

O segundo grau da Ordem é o ministério de Leitor, a quem pertence ler na Igreja, em voz alta e inteligível, os livros do Antigo e do Novo Testamento, sobretudo aqueles que costumam ser lidos durante a recitação noturna dos Salmos. Era também de sua obrigação ensinar aos fiéis os primeiros rudimentos da doutrina Católica.
Por conseguinte, no ato da ordenação, o Bispo entrega-lhe, à vista do povo, um livro que contém todas as prescrições relativas a este ministério, e diz as palavras: “Recebe este livro, e transmite a Palavra de Deus. Se desempenhares teu ofício com perseverança e edificação, terás parte com aqueles que, desde o começo, souberam administrar a Palavra de Deus”.

EXOSCISTAS

A terceira é a Ordem dos Exorcistas, aos quais foi dado o poder de invocar o nome do Senhor sobre os possessos de espírito imundos. Por isso, ao ordená-los, o Bispo entrega-lhes o Livro de exorcismos, e usa esta fórmula: “Toma e guarda na memória este Livro, e fica com o poder de impor as mãos aos possessos, quer sejam batizados, quer sejam catecúmenos”.

ACÓLITO

O quarto grau é a Ordem dos Acólitos, a última dentre as que se chamam Ordens Menores, não Sacras. Incumbe-lhes a obrigação de acompanhar e servir, nas funções do altar, aos diáconos e subdiáconos, que são os ministros de Ordens Maiores.
Além disso, são eles que levam e apresentam os círios na celebração do Sacrifício da Missa, principalmente quando se faz leitura do Evangelho; razão pela qual também se chama ceroferários.
No ato de ordenação, o Bispo observa o rito seguinte. Depois de bem instruí-los acerca das obrigações de seu ministério, entrega a cada um dos ordinandos um círio, e pronuncia as palavras: “Recebe este castiçal com a vela, e reconhece que ficas obrigado a acender as luzes na igreja, em nome do Senhor”. Depois, dá-lhes também, vazias, as galhetas, em que serve água e vinho para o Sacrifício; “Recebe as galhetas, a fim de ministrarem vinho e água para o Sacrifício Eucarístico do Corpo de cristo, em nome do Senhor”.

Ostiários: Situação do século XVI. Atualmente, esta ideia está inteiramente obliterada. Na sacristia, guardava-se muitas vezes a Santa Reserva.

ORDENS MAIORES

As Ordens Menores, não-Sacras, de que tratamos até agora, abem o legítimo acesso e promoção para as Ordens Maiores e Sacras.

SUBDIÁCONO

No primeiro grau destas está o subdiácono, cuja função como diz o próprio nome, é a de servir o diácono ao altar. Cabe-lhe preparar os corporais, os vasos, pão e vinho, que são necessários para o Sacrifício. Hoje em dia, derrama água, quando o Bispo e o sacerdote lavam as mãos, durante o Sacrifício da Missa.
O subdiácono lê também a Epístola, que antigamente era recitada pelo diácono na Missa. Assiste, como testemunha, ao Santo Sacrifício, e atende que ninguém possa perturbar o sacerdote celebrante.
Todas estas obrigações, inerentes ao ministério de subdiácono, são expressas pelas solenes cerimônias que acompanham a ordenação. Antes de tudo, o Bispo faz lembrar que esta Ordem traz consigo a obrigação de perpétua castidade, e declara, formalmente, que não pode ser admitido à Ordem de Subdiácono quem se proponha tomar a si essa obrigação.
Recitada solenemente a ladainha de Todos os Santos, o Bispo põe-se a enumerar e explicar as funções e deveres do subdiácono. A seguir, cada um dos ordinandos recebe, das mãos do Bispo. o cálice e a sagrada patena; do arcediago, porém, as galhetas cheias de vinho e água, juntamente com uma bacia e toalha para enxugar as mãos, para assim se mostrar que o subdiácono deve servir o diácono em suas funções. E nessa ocasião, diz o Bispo: “Considerai qual ministério vos é confiado. Por isso, eu vos exorto, portai-vos de maneira que Deus possa ter em vós a Sua complacência”.
Acrescentam-se ainda outras orações. Por último, depois de revestir o subdiácono das vestes sagradas, usando para cada uma dessas orações e cerimônias apropriadas, o Bispo lhe entrega o epistolário, e diz ao mesmo tempo: “Toma o Livro das Epístolas, e recebe o poder de lê-las na Santa Igreja de deus, assim pelos vivos, como pelos defuntos”.

DIÁCONOS

Ocupa o segundo grau das Ordens Sacras o diácono, cujo ministério é mais amplo, e sempre tido como mais sagrado,. Cabe-lhe a obrigação de acompanhar sempre o Bispo, fazer-lhe guarda durante a pregação, assistir o Bispo e o sacerdote na celebração da Missa, ou na administração de outros Sacramentos, e fazer a leitura do Evangelho no Sacrifício da Missa.
Antigamente, o diácono exortava os fiéis a estarem atentos aos Sagrados Mistérios. Ministrava também o Sangue do Senhor nas Igrejas, onde os fiéis costumavam receber a Eucaristia debaixo de ambas as espécies. Além disso, ao diácono estava entregue a administração dos bens eclesiásticos, com a incumbência de fornecer a cada um o que era necessário para a sua manutenção.
Ao diácono pertence, também, como se fora os olhos do Bispo, investigar, cuidadosamente, quem na cidade leva vida cristã e piedosa, e quem não leva; quem comparece à Missa e à pregação nos dias marcados, e quem não comparece, para que o Bispo, por ele informado de tudo o que acontece, possa então exortar e advertir cada um À puridade, ou censurar e corrigir publicamente, conforme o julgar mais indicado.
Deve, outrossim, proclamar os nomes dos catecúmenos, e apresentar ao Bispo os que estão para receber o Sacramento da Ordem. Na ausência do Bispo ou do sacerdote, pode explicar o Evangelho, mas não do púlpito, para se dar a entender que isso não é próprio do seu ministério.
Descrevendo a Timóteo os costumes, a virtude, a integridade própria do diácono, o Apóstolo mostra quanta precaução se deve ter a que nenhum indigno seja promovido a este grau de Ordem. É o que também indicam, com muita clareza, os solenes ritos e cerimônias, que o Bispo emprega no ato de ordenação. O Bispo diz maior número de orações mais solenes, na Ordenação do diácono, do que na Ordenação do subdiácono, e faz entrega de outras alfaias a mais. Além disso, impõe-lhe as mãos; lemos na Escritura que assim praticam os Apóstolos, quando instituíram os primeiros diáconos. Por isso, entrega-lhes o Livro dos Evangelhos, dizendo a fórmula: “Recebe o poder de ler o Evangelho na Igreja de Deus, assim pelos vivos, como pelos mortos, em nome do Senhor”.

SACERDOTE

O terceiro, e o supremo grau de todas as Ordens Sacras, é o sacerdócio. Aos que possuem este grau, os Santos Padres costumavam designá-los por dois nomes. Por vezes, chamavam-lhes “presbíteros”, palavra grega que significa “anciãos”, não só pela madureza da idade, que é muito necessária para este grau de Ordem; mas, muito mais ainda, pela cordura de caráter, pela doutrina e pelo bom-senso, pois está escrito: “A velhice venerada não é a que dura muito, nem a que se mede pelo número de anos; porém o bom-senso do homem supre as suas cãs, e a vida ilibada é uma verdadeira velhice”.
Outras vezes, chamam-lhes “sacerdotes”, já porque são consagrados a Deus, já porque lhes compete administrar os Sacramentos, e tratar das coisas coisas sagradas e divinas.

(At 6,6. Sb 4,8 ss.) — Os termos sacerdote, consagrar, Sacramento derivam do mesmo étimo latino: sacer=santo, sagrado.

  • Catecismo Romano (Catecismo do Concílio Ecumênico de Trento) — Sobre o Sacramento da Ordem.

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Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

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