Dogmas Marianos
Essas são as quatro verdades básicas que todos os católicos devem saber sobre Maria Santíssima Imaculada e Sempre Virgem Mãe de Deus Assunta aos Céus.
Os dogmas sobre Maria são verdades de fé declaradas por um Concílio ou por um Papa e nas quais o fiel católico é obrigado a acreditar e professar.
Uma breve explicação sobre os dogmas marianos.
Maria Mãe de Deus, Sempre Virgem Maria, Imaculada Conceição de Maria e Assunção de Maria
1. Maternidade divina
Cristo é pessoa divina e Maria é a Sua mãe. Foi declarado no Concílio de Éfeso, em 431. Na época a Igreja vivia uma profunda polêmica interna causada pelos nestorianos, corrente muito popular entre as comunidades cristãs do Oriente. Segundo eles, Jesus tinha duas naturezas, uma humana e outra divina, mas pouco ligadas. Maria seria mãe apenas de Cristo como homem. Para combater esse pensamento, a Igreja outorgou-lhe o título de Theotokos (Teótokos), expressão grega que significa “Mãe de Deus”.
2. Virgindade perpétua
Maria foi virgem antes, durante e depois do parto. Foi declarado no segundo Concílio de Constantinopla, em 553. A virgindade de Maria é uma ideia tradicional, que remonta às origens do cristianismo, mas gerou bastante polêmica ao longo da história da Igreja. Foi questionada pelos pagãos, que não compreendiam como uma virgem poderia dar à luz. Já as tendências gnósticas dentro do cristianismo achavam que Jesus era filho de José.
3. Imaculada Conceição
Maria foi totalmente isenta de pecado, inclusive quando concebida por seus pais, Santa Ana e São Joaquim. Todo o resto da humanidade, desde os nossos primeiros pais, nasceu com pecado original — daí, aliás, a necessidade da Salvação. Proclamado pelo Papa Pio IX em 1854, o dogma da Imaculada Conceição teve como pano de fundo a luta que na época a Igreja travava contra o racionalismo enviesado e exacerbado. Essa corrente, com ares de “científica”, negava a possibilidade de forças sobrenaturais agirem no mundo. O dogma da Imaculada realça justamente a intervenção direta de Deus no mundo ao preservar Maria do pecado original.
Nas aparições de Lourdes, a própria Nossa Senhora confirmou essa verdade de fé.
E, em outro caso impressionante, durante um exorcismo na Itália em 1823, dois sacerdotes dominicanos fizeram o diabo reconhecer esse mesmo dogma 30 anos antes de que ele fosse promulgado!
4. Assunção
Após a morte, Maria subiu ao Céu em corpo e alma. Depois de Cristo, ela foi a única criatura que teve esta distinção. Foi declarado por Pio XII no pós-guerra, em 1950. Após a maciça mortandade da Segunda Guerra, o dogma fala da santidade da vida e da dignidade dos corpos humanos, ao lembrar que eles também estão destinados à Ressurreição.
Agora vamos observar algumas explicações mais profundas sobre os dogmas da Santíssima Virgem Maria
São João Paulo II explica por que Maria é a Mãe de Deus
A contemplação do mistério do nascimento do Salvador tem levado o povo cristão não só a dirigir-se a Virgem Santa como a Mãe de Jesus, como também a reconhecê-la como Mãe de Deus. Essa verdade foi aprofundada e compreendida como pertencente ao patrimônio da fé da Igreja, já desde os primeiros séculos da era cristã, até ser solenemente proclamada pelo Concílio de Éfeso no ano 431.
Na primeira comunidade cristã, enquanto cresce entre os discípulos a consciência de que Jesus é o Filho de Deus, resulta bem mais claro que Maria é a Theotókos, a Mãe de Deus. Trata-se de um título que não aparece explicitamente nos textos evangélicos, embora eles recordem “a Mãe de Jesus” e afirmem que Ele é Deus (Jo 20,28; cf. 5,18; 10,30.33). Em todo o caso, Maria é apresentada como Mãe do Emanuel, que significa Deus conosco (cf. Mt 1,22–23).
Mãe de Deus e Theotókos
Já no século III, como se deduz de um antigo testemunho escrito, os cristãos do Egito dirigiam-se a Maria com esta oração: “Sob a vossa proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus! Não desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo perigo, ó Virgem gloriosa e bendita” (Da Liturgia das Horas). Neste antigo testemunho, a expressão Theotókos, “Mãe de Deus”, aparece pela primeira vez de forma explícita.
Na mitologia pagã, acontecia com frequência que alguma deusa fosse apresentada como mãe de um deus. Zeus, por exemplo, deus supremo, tinha por mãe a deusa Reia. Esse contexto facilitou talvez, entre os cristãos, o uso do título Theotókos, “Mãe de Deus”, para a mãe de Jesus. Contudo, é preciso notar que esse título não existia, mas foi criado pelos cristãos, para exprimir uma fé que não tinha nada a ver com a mitologia pagã, a fé na concepção virginal, no seio de Maria, daquele que, desde sempre, era o Verbo Eterno de Deus.
O Concílio de Éfeso proclamou Maria como Mãe de Deus
No século IV, o termo Theotókos é já de uso frequente no Oriente e no Ocidente. A piedade e a teologia fazem referência, de modo cada vez mais frequente, a esse termo, já encontrado no patrimônio de fé da Igreja.
Compreende-se, por isso, o grande movimento de protesto, que se manifestou no século V, quando Nestório pôs em dúvida a legitimidade do título “Mãe de Deus”. Ele, de fato, propenso a considerar Maria somente como Mãe do homem Jesus, afirmava que só era doutrinalmente correta a expressão “Mãe de Cristo”. Nestório era induzido a esse erro pela sua dificuldade de admitir a unidade da pessoa de Cristo, e pela interpretação errônea da distinção entre as duas naturezas — divina e humana — presentes nele.
O Concílio de Éfeso, no ano 431, condenou as suas teses e, afirmando a subsistência da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Filho, proclamou Maria Mãe de Deus.
As dificuldades e as objeções apresentadas por Nestório oferecem-nos, agora, a ocasião para algumas reflexões úteis, a fim de compreendermos e interpretarmos de modo correto esse título.
O que quer dizer Theotókos?
A expressão Theotókos, que literalmente significa “aquela que gerou Deus”, à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é Lhe consubstancial. Nessa geração eterna, Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi, então, concebido e dado à luz por Maria.
Proclamando Maria “Mãe de Deus”, a Igreja quer, portanto, afirmar que ela é a “Mãe do Verbo encarnado, que é Deus”. Por isso, a sua maternidade não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana.
A maternidade é relação entre pessoa e pessoa: uma mãe não é mãe apenas do corpo ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera. Maria, portanto, tendo gerado segundo a natureza humana a pessoa de Jesus, que é a pessoa divina, é Mãe de Deus.
Ao proclamar Maria “Mãe de Deus”, a Igreja professa com uma única expressão a sua fé acerca do Filho e da Mãe. Essa união emerge já no Concílio de Éfeso. Com a definição da maternidade divina de Maria, os padres queriam evidenciar a sua fé à divindade de Cristo. Não obstante as objeções, antigas e recentes, acerca da oportunidade de atribuir esse título a Maria, os cristãos de todos os tempos, interpretando corretamente o significado dessa maternidade, tornaram-no uma expressão privilegiada da sua fé na divindade de Cristo e do seu amor para com a Virgem.
Theotókos, garantia da realidade da Encarnação
Na Theotókos, a Igreja, por um lado, reconhece a garantia da realidade da Encarnação, porque — como afirma Santo Agostinho — “se a Mãe fosse fictícia, seria fictícia também a carne… fictícia seriam as cicatrizes da ressurreição” (Tract. In Ev. loannis, 8,6–7). Por outro lado, ela contempla com admiração e celebra com veneração a imensa grandeza conferida a Maria por Aquele que quis ser seu Filho. A expressão “Mãe de Deus” remete ao Verbo de Deus que, na Encarnação, assumiu a humildade da condição humana, para elevar o homem à filiação divina. Mas esse título, à luz da dignidade sublime conferida à Virgem de Nazaré, proclama também a nobreza da mulher e sua altíssima vocação. Com efeito, Deus trata Maria como pessoa livre e responsável, e não realiza a Encarnação de seu Filho senão depois de ter obtido o seu consentimento.
Seguindo o exemplo dos antigos cristãos do Egito, os fiéis entregam-se àquela que, sendo Mãe de Deus, pôde obter do divino Filho as graças da libertação dos perigos e da salvação eterna.
Extraído do livro “A virgem Maria”, de São João Paulo II
Em que sentido Maria é sempre Virgem?
O que a Igreja pretende nos ensinar quando diz que Maria é “sempre Virgem”? Que relevância tem o dogma da virgindade perpétua de Nossa Senhora no conjunto da doutrina católica? E quais são, além da integridade física, os outros dois tipos de virgindade que os Padres, Doutores e teólogos reconhecem em Maria Santíssima?
Explicações da Virgindade perpétua de Maria
“Na fulgidíssima coroa da maternidade divina”, escreve um insígne mariólogo, “posta por Deus sobre a cabeça de Maria, refulgem muitas e delicadas pedras preciosas; mas a principal delas, que resplandece mais do que todas as outras, é a pérola da virgindade”. Mas o que, afinal de contas, nos quer ensinar a Igreja Católica quando se refere a Maria SS. com o título de “a sempre Virgem”?
1. Virgindade corporal. — A primeira coisa que nos diz este dogma, no qual se contém um dos mais belos privilégios marianos, é a virginidade material, também chamada virginitas corporis, de Nossa Senhora. Trata-se de um mistério realizado por Deus no corpo de Maria, em virtude do qual ela foi e se manteve sempre e perfeitamente virgem, antes, durante e depois do parto, sem que jamais se lhe tenha rompido a membrana do hímen. Esta perfeitíssima integridade física que Deus quis preservar milagrosamente no corpo de sua Mãe foi e ainda é um sinal do mistério ainda maior que nela se realizou: a Encarnação do Verbo divino.
a) Antes do parto. — Assim sendo, que Maria tenha permanecido virgem antes do parto significa que Cristo foi nela concebido sem intervenção alguma de varão (ou seja, por meio de uma relação sexual normal), mas por obra exclusiva do Espírito Santo, isto é, pelo poder de Deus, para quem nenhuma coisa é impossível (cf. Lc 1, 37). Com efeito, a concepção virginal é um meio claríssimo de pôr em evidencia a divindade daquele que é concebido. Pois se Maria, enquanto Mãe, é prova de que Cristo é homem igual a nós, enquanto é Mãe e Virgem ao mesmo tempo, é prova de que Ele é Deus acima de nós.
b) Durante o parto. — Além disso, ensina a Igreja Católica que Maria permaneceu virgem durante o parto, ao longo de todo o processo em que deu Cristo à luz em Belém. Assim o declara o Magistério da Igreja, assim o testemunham os Santos Padres e a Liturgia, assim o corrobora a razão iluminada pela fé. De fato, que poderia haver de mais estranho e indigno da bondade divina se Aquele que veio livrar a humanidade da corrupção do pecado corrompesse, em seu parto singular, a integridade virginal da própria Mãe? Aliás, que valor teria, como indício visível da divindade de Nosso Senhor, a integridade corporal de Maria, se após o parto ela deixasse de ser virgem?
c) Depois do parto. — Enfim, a Igreja nos manda crer que Maria permaneceu virgem depois do parto, ou seja, que nunca teve relações sexuais nem, portanto, outros filhos além de Jesus. Afirmar o contrário seria não só desconhecer as Escrituras, que em lugar algum dão margem a uma interpretação oposta ao dogma católico, mas ainda uma grande injúria a Cristo, que, sendo o Unigênito do Pai, devia também ser o unigênito da Mãe; ao Espírito Santo, que fez do útero da Virgem um sacrário intocável, ao qual só Deus quis ter entrada; a Nossa Senhora, imputando-lhe a ousadia de não se ter contentado com um filho tão bom como Cristo e a temeridade de destruir a virgindade que milagrosamente lhe fora conservada; e, enfim, a S. José, que teria cometido a terrível presunção de tocar naquela em que, por revelação do Anjo, sabia ter-se encarnado o Filho do Altíssimo (cf. S. Tomás de Aquino, STh III 28, 3 c.).
2. Virgindade dos sentidos. — Além desta virgindade material ou física, crêem os cristãos que Nossa Senhora foi também sempre virgem em seus afetos e desejos, com uma virgindade chamada em teologia virginitas sensus. Por ser Imaculada, Maria esteve livre das sequelas do pecado original, entre as quais se conta a desordem da vontade e dos nossos apetites sensitivos. Isso significa que Maria nunca experimentou um desejo, um pensamento sequer, ainda que involuntário, que fosse menos honesto e digno de sua altíssima condição de Mãe de Deus. Nela, tudo era perfeito, tudo redundava em amor a Deus, porque nela não havia aquela inclinação para o mal que, segundo a nossa tradição teológica, recebe o nome de fomes peccati.
3. Virgindade da alma. — Por fim, Maria possui também uma virgindade perpétua de espírito, chamada virginitas mentis, que compreende, de um lado, a disposição permanente de abster-se de todo e qualquer prazer venéreo, como forma de consagrar-se mais perfeitamente a Deus (neste ponto, a sua virgindade espiritual coincide com a das outras virgens consagradas que tanto honram a Igreja com o seu exemplo angélico de entrega a Cristo); e, de outro, uma completa pureza de alma, que fazia de seu Coração Imaculado uma fonte única e irrepetível de amor a Deus, sem mescla alguma de imperfeições. Nisto consiste a parte mais importante e mais essencial da virgindade de Nossa Senhora, porque, sem ela, pouco ou nenhum valor teria, só por si, a simples integridade física.
Para complemento desta questão, vejamos apenas dois exemplos tomados do Magistério eclesiástico mais antigo que atestam claramente a fé da Igreja na virgindade perpétua de Nossa Senhora. Assim se expressa o Concílio de Latrão, celebrado em 649, no cânon n. 3 (DH 503): “Se alguém não professa […] que depois do parto permaneceu inviolada a sua [de Maria] virgindade, seja condenado”. E, de forma ainda mais explícita, fala o Papa Paulo IV, ao condenar na bula “Cum quorumdam hominum” (DH 1880), de 1555, a seita dos unitários, que afirmavam que “a beatíssima Virgem Maria não […] permaneceu sempre na integridade virginal, a saber: antes do parto, no parto e perpetuamente depois do parto” (ante partum scilicet, in partu et perpetuo post partum).
A defesa bíblica do dogma da Imaculada Conceição
Por que a concepção da bem-aventurada Virgem Maria foi diferente de todas as outras? O que a Igreja crê a esse respeito e como as Sagradas Escrituras podem nos ajudar a compreender esse grande mistério?
Se perguntarmos às pessoas, inclusive a muitos católicos, o que é a Imaculada Conceição, há uma grande chance de eles responderem, de forma equivocada, que é a concepção de Jesus no ventre de Maria. Mas, na verdade, a Imaculada Conceição é a concepção de Maria. É um dogma que nos revela que Maria foi preservada da mancha do pecado original no momento de sua concepção, e permaneceu livre do pecado por toda a sua vida.
Era intrínseco ao plano salvífico de Deus que Maria fosse concebida sem o pecado original. Porque Adão e Eva, quando se afastaram de Deus, representavam toda a humanidade, todos os seres humanos afastaram-se de seu Criador. O pecado original foi transmitido a todas as gerações, ao longo de toda a história da humanidade, de modo que, quando somos concebidos, já nascemos num estado natural de separação de Deus, que os teólogos chamam de pecado original originado, e com uma inclinação para pecar, que é a concupiscência.
Quando somos concebidos, já nascemos num estado natural de separação de Deus.
O plano salvífico de Deus era que seu Filho unigênito, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assumisse a natureza humana, a fim de que tanto Deus como o homem Jesus pudessem realizar a redenção da raça humana. Mas havia um problema: Deus é sumamente santo. Portanto, Ele está em completa e total oposição ao pecado, razão pela qual os pecadores não podem estar em sua presença, sem antes serem purificados.
Como, então, Deus, o Filho, poderia se unir intimamente a uma natureza humana decaída? É aqui que entra o plano de Deus para Maria. Deus a escolheu para ser concebida sem pecado original, a fim de que pudesse dar a Jesus uma natureza humana pura e sem pecado. Maria é o vaso puro e inoxidável através do qual Jesus recebe uma natureza humana imaculada e sem pecado, a fim de que possa entrar no mundo para completar o plano salvífico do Pai.
No livro do Gênesis, Deus anunciou pela primeira vez o seu plano de salvação realizado por meio de Cristo, ao afirmar à serpente: “Colocarei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). Deus dirige-se à serpente para dizer que os filhos da mulher atingirão sua cabeça. Quem é que atacará a cabeça da serpente? Jesus é quem veio para atacar a cabeça de Satanás e destruir seu poder. Portanto, se o filho da mulher é Jesus, a mulher obviamente é Maria.
Deus fala de inimizade entre a serpente e a mulher, e entre os descendentes da serpente e os descendentes da mulher. A descendência de Satanás é, na verdade, o pecado, com o qual ele deseja se multiplicar e encher a terra. Portanto, existe inimizade entre Maria/Jesus e Satanás/pecado. Essa inimizade significa uma oposição total e completa. Assim, quando duas coisas estão em inimizade, elas não têm nada a ver uma com a outra; não há absolutamente nenhuma cooperação ou comunhão entre ambas. Isso significa que Jesus e Maria se opõem completamente a Satanás e ao pecado, não possuindo nenhuma cooperação ou comunhão com eles.
Era necessário que Maria não tivesse uma natureza decaída, pois qualquer participação no pecado original, ou mesmo no pecado pessoal, destruiria sua inimizade com Satanás e o pecado. Por conseguinte, nesse primeiro anúncio do plano salvífico de Deus, vemos sua intenção de manter Maria totalmente livre do pecado, a fim de que Jesus pudesse assumir uma natureza humana incorruptível.
Uma referência ainda mais explícita à Imaculada Conceição de Maria está presente no Evangelho de Lucas, na Anunciação do anjo a Nossa Senhora (cf. Lc 1, 26–38). Ao saudar Maria, o anjo Gabriel revela que ela é imaculada. A tradução mais adequada da sua saudação é “Salve, tu que és plena de graça” (Lc 1, 28). A palavra grega kekaritomene (κεχαριτωμένη) é um particípio perfeito, que significa “foi preenchido”. Em razão disso, afirmamos que Maria é aquela que “foi preenchida” com a graça de Deus, aquela que a recebeu em toda sua plenitude, uma vez que a graça já lhe foi concedida de forma plena no momento da sua concepção.
Qualquer participação de Maria no pecado destruiria sua inimizade com Satanás.
A saudação do anjo revela ainda outra verdade sobre Maria. Sempre que alguém peca — mesmo que cometa o menor dos pecados — , acaba por perder ao menos um pouco da graça de Deus. Essa é a natureza do pecado: uma decisão livre de rejeitar a graça que Deus oferece a nós, que é a vida de seu Filho dada em sacrifício de amor. Para Maria estar “plena de graça”, ela deveria estar completamente livre do pecado, porque o mais ínfimo pecado a privaria de pelo menos parte da graça que recebera.
Cabe agora compreendermos como exatamente Deus preservou Maria do pecado original. Em sua bula Ineffabilis Deus, o Papa Pio IX declarou que ela foi preservada do pecado “por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo”.
Maria precisava, tanto quanto todos nós, que Cristo a redimisse. E ela foi, como todos nós, redimida por sua morte na Cruz. Mas, como ela pode ter sido redimida pela morte de Jesus na Cruz antes mesmo de Jesus ter nascido?
Deus é eterno e transcendente e, portanto, não está submetido às limitações de espaço e tempo. Ele vê todo o tempo — passado, presente e futuro — de uma só vez. É como se olhasse para um trem muito longo do alto de um helicóptero. Os motores são o momento da Criação e o último vagão é o fim do mundo, e nós estamos em algum lugar entre os dois. Deus opera fora do tempo. Portanto, Ele tomou as graças e os méritos da morte de Jesus na Cruz e os aplicou de volta no tempo ao momento da concepção de Maria. Desse modo, Maria Santíssima, como todos nós, foi redimida por Cristo, embora, “por singular graça e privilégio do Deus onipotente”, ela também tenha sido completamente preservada do pecado original. Nesse sentido, Maria não foi apenas redimida, mas também preservada do pecado. Ela nunca teve pecado, nem por um segundo. Desde o primeiro momento de sua existência, Maria foi completamente preservada do pecado, sem nunca conhecer ou cooperar com ele em toda sua vida.
Maria é o vaso puro e inoxidável através do qual Jesus recebe uma natureza humana imaculada e sem pecado.
Embora Maria tenha sido preservada do pecado original no momento de sua concepção, ela ainda poderia ter escolhido pecar, pois tinha livre-arbítrio. Ela ainda poderia ter rejeitado a graça de Deus e o seu plano, e caído no pecado. Ela poderia ter dito “não” ao Pai na Anunciação do anjo Gabriel. Ela poderia ter dito “não” ao Pai, aos pés da Cruz, onde entregou seu Filho. Ela poderia ter se desesperado e amaldiçoado a Deus. No entanto, Maria cooperou perfeitamente e se rendeu ao grande dom da graça que Deus lhe dera e viveu a mais extraordinária vida cristã. É por isso que Maria é nosso grande modelo de fé a ser vivido pela Igreja. Somos chamados a cooperar com todas as graças que Deus escolhe nos dar, a fim de que, com humildade e amor, andemos pelo caminho que Ele quer para nós.
O Dogma da Assunção de Nossa Senhora foi proclamado, solenemente, pelo Venerável Papa Pio XII
A Sagrada Tradição da Igreja ensina que Nossa Senhora foi elevada ao céu de corpo e alma após sua morte. No entanto, as particularidades da “morte” da Virgem Maria não são conhecidas. Santo Epifânio, bispo de Salamina de Chipre, compôs, nos anos de 374-377, o livro sobre as heresias, no qual escreve: “Ou a Santa Virgem morreu e foi sepultada e seguiu-se depois sua Assunção na glória, ou, sem fim, verificou-se em plena e ilibada pureza, adornando a coroa de sua virgindade” (MS, p. 267).
O Dogma da Assunção da Virgem Santíssima foi proclamado, solenemente, pelo Venerável Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, e sua festa é celebrada no dia 15 de agosto. Grande júbilo e alegria pairou sobre todo o mundo católico naquela data, especialmente para os filhos de Maria. Quando o Papa o decretou, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, foi uma verdadeira apoteose, tanto na Praça de São Pedro, em Roma, como nas outras cidades do mundo católico.
Nesse documento, disse o Papa: “Cristo, com Sua morte, venceu o pecado e a morte e sobre esta e sobre aquele alcançará também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado sobrenaturalmente pelo batismo. Mas por lei natural Deus não quer conceder aos justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim dos tempos. Por isso, os corpos dos justos se dissolvem depois da morte, e somente no último dia tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma gloriosa. Mas desta lei geral Deus quis excetuar a Bem-Aventurada Virgem Maria. Ela, por um privilégio todo singular, venceu o pecado; por sua Imaculada Conceição, não estando por isso sujeita à lei natural de ficar na corrupção do sepulcro, não foi preciso que esperasse até o fim do mundo para obter a ressurreição do corpo”.
Proclamação do Dogma da Assunção de Maria
Assim, na Praça de São Pedro, em Roma, diante do pórtico de São Pedro, circundado por 36 Cardeais, 555 Patriarcas, Arcebispos e Bispos e sacerdotes, e perante cerca de um milhão de fiéis, o Papa proclamava solenemente: depois de haver mais uma vez elevado a Deus nossas súplicas e invocado as luzes do Espírito Santo, a glória de Deus Onipotente, que derramou sobre a Virgem Maria Sua especial benevolência, em honra de Seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para maior glória de Sua augusta Mãe e para a alegria e exultação de toda a santa Igreja, e pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de fé revelado por Deus que: a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma (MS, p. 282).
Solenidade
Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Marialis Cultus, resume a importância desse dogma numa expressão cheia de densidade: “A solenidade de 15 de agosto celebra a gloriosa Assunção de Maria ao Céu, festa de seu destino de plenitude e de bem-aventurança, glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado” (MC n.6).
Assim, Maria participa da ressurreição e glorificação de Cristo. É preciso lembrar, aqui, que somente Jesus e Maria subiram ao Céu de corpo e alma. Os santos estão lá apenas com suas almas, pois os corpos estão na terra, aguardando a ressurreição do último dia. Maria, ao contrário, foi elevada ao céu também com seu corpo já ressuscitado. É uma grande glória dela.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em uma Instrução de 17-05-1979, deixou bem claro: a Igreja, ao expor a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tire o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos (n. 6).
Quais são os motivos da Assunção de Nossa Senhora?
1 – Como Maria não esteve sujeita ao poder do pecado para poder ser a Mãe de Deus, também não podia ficar sob o império da morte; pois, como disse São Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23). Assim, Maria não experimentou a corrupção da carne, mas foi glorificada em sua alma e seu corpo.
2 – A carne de Jesus e a de Maria são a mesma carne. Portanto, a carne de Maria devia ter a mesma glória que teve a de seu Filho.
São João de Damasco, no ano 749, escreve: “Era necessário que aquela que, no parto, havia conservado ilesa sua virgindade, conservasse também sem corrupção alguma seu corpo depois da morte. Era preciso que aquela que havia trazido no seio o Criador feito menino habitasse nos tabernáculos divinos. Era necessário que aquela que tinha visto o Filho sobre a cruz, recebendo no coração aquela espada das dores das quais fora imune ao dá-Lo à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai. Era necessário que a Mãe de Deus possuísse aquilo que pertence ao Filho e fosse honrada por todas as criaturas como Mãe de Deus”.
E assim também se exprime São Germano, patriarca de Constantinopla, falecido em 735, e outros santos (MS, pp. 272 e 273).
Salve a Sempre Virgem Maria Imaculada!
Referências
- Tratado da Verdadeira Devoção
- Gabriel M. Roschini, Mariologia.
- 2.ª ed., Roma: Angelus Belardetti, vol. 3 (= t. 2, 2.ª parte), 1948, p. 239.
- Cf. Id., p. 240, nota 1; L. Ott, Manual de Teología
- Dogmática. Trad. esp. Constantino R. Garrido. 5.ª, Herder: 1966, p. 321.
- padrepauloricardo.org