Do namoro ao matrimônio, uma análise sobre as virtudes e deveres no casamento.
“Depois que um homem conhece a sua única mulher, aquela a quem ama, conhece todas as mulheres mais do que se tivesse conhecido mil mulheres.”
“Deus, portanto, TOCA o corpo da mulher e põe uma nova alma no templo de seu ventre — Esse é mais um privilégio incrível que o Criador deu às mulheres — Durante a gestação elas têm o extraordinário privilégio de carregar duas almas em seus corpos” — Dra. Alice Von Hildebrand
“O privilégio de ser mulher é particularmente realçado pelo fato de que Maria — a mais perfeita das criaturas — era uma mulher.” — Alice Von Hildebrand
Do namoro ao matrimônio, o caminho de perfeição da família cristã.
SOBRE O NAMORO
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O namoro é o período em que o rapaz e a moça procuram conhecer-se em preparação para o matrimônio. No matrimônio homem e mulher doam seus corpos, constituem uma só carne e tornam-se instrumentos de Deus na geração de novas vidas humanas. Mas antes de doar os corpos é preciso doar as almas. No namoro os jovens procuram conhecer não o corpo do outro, mas sua alma. Os namorados não podem ter relações sexuais, pois o corpo do outro ainda não lhes pertence. Unir-se ao corpo alheio antes do casamento (fornicação) é um pecado contra a justiça, algo como um roubo. E como nosso corpo é templo do Espírito Santo (1Cor 6,19) a profanação de nosso corpo é algo semelhante a um sacrilégio.
“Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1Cor 3,16–17).
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Porém não é apenas a fornicação que é pecado, mas também tudo o que provoca desejo da fornicação, como abraços e beijos que, muitíssimo mais que constituírem expressões de afeto, despertam, alimentam e exacerbam o desejo físico. Aliás, é possível profanar o templo do nosso corpo até por um pensamento: “Todo aquele que olha para uma mulher com mau desejo já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,28). Durante o namoro deve-se evitar o contato físico desnecessário. O contato entre os corpos (beijos e abraços), além de causar o desejo de fornicação, obscurece a razão. O próprio beijo na boca ou de novela já constitui uma entrega física, que, se acidentalmente pode não se consumar, no entanto a prepara ou apressa. Vale aqui lembrar a advertência de Cristo: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito é pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41). O prazer da excitação dos sentidos, além disso, torna os jovens incapazes de perceber a beleza da alma do outro. O namoro assim deixa de ser uma ocasião de amar para ser uma ocasião de egoísmo a dois, cada um desejando sugar do outro o máximo de prazer.
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AMOR E PAIXÃO
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Também não é difícil diagnosticar o amor e a paixão. Esta se identifica com o falso amor. É violenta, descontrolada, impetuosa. Só fala de direitos, necessidades e exigências. Cheia de impulsos sensuais, é caprichosa e volúvel, só se sente bem quando satisfeita, e só se satisfaz quando sacia o instinto. É inquietante, embriagadora e ciumenta. Como não sabe elevar-se, aferra-se aos encantos do corpo e aos prazeres. Por isto mesmo é inconstante. Tanto lhe faz dizer e pensar que não é possível viver sem a pessoa “amada” como desprezá-la, se as graças corporais faltarem ou o tufão soprar noutra direção. É capaz de matar, contrariada; não é capaz de morrer, para servir. Vive dos sentidos, e se extingue sem a força do instinto, de onde nasce, ou sem o fogo da concupiscência, em que se aquece, ou sem os prazeres da carne, de que se alimenta. Sua vida é precária como seus elementos.
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Bem diverso é o amor. Como é elevado, ultrapassa o corpo e se dirige à alma. Porque é único, é tranquilo. Sendo intransferível, é calmo e senhor de si. Porque indissolúvel, é definitivo. Nunca dará à pessoa amada a lamentável impressão de que a quer para instrumento de prazer. Sendo amor conjugal, está naturalmente orientado para a geração dos filhos: realiza-se na mais íntima e profunda união dos corpos — que só tem significação, quando simboliza a fusão das almas. E nestas relações de intimidade o amor se alimenta e desenvolve, não porque elas lhe sejam a razão de ser ou não o sustentáculo, mas porque lhe são fruto e expressão. Tanto assim, que a ausência delas não o enfraquece, salvo quando determinada por falta do próprio amor. Motivada por causas altas, a ausência das relações sexuais eleva e purifica ainda mais o amor, libertando-o das injunções da carne. Sem o peso dos sentidos, libra-se; sem o ônus da matéria, espiritualiza-se. Encarado assim, o amor se impõe ao respeito dos que pretendem a vida conjugal. E desta só serão verdadeiramente dignos aquêles que souberem respeitar o amor.
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O VERDADEIRO AMOR
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A amizade que se dedica ás criaturas, unicamente pela beleza de sua forma, pelo prazer, pelo atrativo carnal, não é amor, é depravação bestial. Amar é dar e tal amor não dá nada, só quer receber. Amar é querer o bem da pessoa amada. Tal amizade não quer o bem da pessoa, quer apenas o bem de seus sentidos, a volupia carnal, o prazer, o gozo pessoal, a lama. Ah! não confundam a bela e pura aspiração do amor com a baixa torpeza de um corpo apodrecido e de sentidos á procura da lama! É uma profanação do amor. É arrancar do amor as asas luminosas e substitui-las por peles de morcego. Quem só sabe amar pela carne e para a carne, deixa de ser homem, é um animal. A animalidade não faz parte do amor; é o antípoda do amor. Há, pois, um amor verdadeiro, puro, santo e divino: é o unico amor, aquele que é baseado sobre Deus e que se chama virtude. Há uma aberração abjecta, uma paródia aviltante, que não tem do amor sinão o nome, e que é no fundo a bestialidade, a perversão de um coração profanado, que sente a podridão da carne e a embriaguez das paixões, julgando ser isto amor. Não! não! É a degradação do amor! E esta degradação é o princípio do odio. Quem fomenta relações ilícitas, com uma cúmplice, não tem direito de lhe dizer: Eu te amo. Não há verdadeiro amor quando só os sentidos tomam parte nele. É impossivel amar uma pessoa, arruinando-lhe a honra, a alma e sendo lhe a causa da eterna condenação! Isto não é amor, é ódio!
O verdadeiro amor não conhece cálculos nem comparações: ele se doa, estimando o que faz pela pessoa amada nunca é demais. O que A Imitação de Cristo afirma do amor de Deus vale também para um amor tão profundo e sagrado como o amor conjugal: “Nada lhe pesa, nada lhe custa, ele tenta mais do que pode, ele nunca dá como pretexto a impossibilidade. Ele realiza muitas coisas que fatigam e que esgotam de forma vã aquele que não ama.” Não surpreende que o Apóstolo ouse comparar o amor do esposo pela esposa ao amor de Cristo pela Igreja.
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O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
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Ato religioso na sua origem, na sua finalidade, na estimação e nos costumes dos povos, tornou-se o matrimônio no Cristianismo ato sagrado e sobrenatural. Agora, feito produtor eficaz da graça divina, ele purifica a fonte da vida, sobredoura a instituição natural, comunica luzes para a criação da prole, eleva o amor à esfera do divino, dá força aos homens para domar as rebeldias da concupiscência, insere-se visceralmente na finalidade do cristão, que é a santidade. Isto dita outra atitude em face do matrimônio. Mesmo para os pagãos a união do homem e da mulher, una e indissolúvel, para a geração e educação de filhos, foi sempre um ato de grande seriedade e responsabilidade, porque envolve duas vidas que produzirão outras vidas.
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Para os cristãos é um ato sagrado — um Sacramento! Nele se pensa com a mente em Deus, o coração no céu. A preparação que ele exige é santa: vai-se para o matrimônio como se vai para a comunhão. Os que caminham para o altar, onde se casam, devem estar tão santificados como os que vão para a mesa eucarística. São dois Sacramentos que se recebem! Podemos levar longe a comparação, de todo procedente. A necessidade da preparação, a exigência do estado de graça, o sacrilégio dos que se aproximassem em pecado, tudo!
É um Sacramento: temos de aceitá-lo como tal, agradecendo a Cristo ter feito do contrato natural, tão cheio de encargos, uma fonte de graça que santifica, alivia e ajuda no cumprimento dos deveres árduos. É um Sacramento: procuremos nele o que ele pode dar para a vida presente e a futura. Não há fugir-lhe. Em face dele ou beneficiar-se ou profaná-lo.
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A VOCAÇÃO MATRIMONIAL
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Diante de tamanha exigência do matrimônio cristão, somente dois tipos de pessoas se atrevem a se casar: os loucos e os heróis. O louco casa-se para ser feliz, na ilusão de que a outra pessoa, limitada e imperfeita, poderá saciar a ele, que foi criado para o infinito e a eternidade. O herói renuncia a si mesmo e casa-se para fazer o outro feliz. Imitando a Cristo crucificado, esvazia-se de tudo, até da água e do sangue do seu coração. Não pensa em ser servido, mas em servir e dar a vida (cf. Mc 10,45). Obviamente, os cônjuges são chamados não à loucura, mas ao heroísmo. Não é à toa que Cristo elevou o matrimônio à dignidade de um sacramento, ou seja, um sinal sensível que comunica a graça que significa. Somente com a graça divina, os cônjuges podem ser fiéis a tão sublime vocação e missão.
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DEFENDER O MATRIMÔNIO
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Quando concluirmos sobre as propriedades do matrimônio, reclamando-lhe unidade e indissolubilidade, e mostrarmos que são exigências indeclináveis, já sabem todos que isto não é doutrina da Igreja; é a própria natureza que o reclama. Quando ensinarmos as normas eclesiásticas do matrimônio, condenando as intromissões indébitas e inaceitáveis dos homens neste terreno, compreenderão todos que a Igreja guarda e defende um legado divino, saído das mãos de Deus no paraíso e recebido por ela das próprias mãos de Cristo. Quando, cansados do mais suave de todos os jugos, que é o do Senhor, quiserem os homens sacudir a moral e comprazer-se nas paixões, lembrar-se-ão de que são livres apenas em contrair ou não o matrimônio, mas, contraindo-o não lhe podem alterar um til, e têm de submeter-se a todas as imposições que a natureza dita e o Evangelho expressa. Quando as paixões, acalentadas, nutridas e dominadoras, pretenderem impor as suas razões contrárias à continência, à procriação, à fidelidade ou a o próprio vinculo, apelando até para as novas uniões, respondam-lhes com o tesouro de graças que o matrimônio encerra e que os cristãos vivem, desgraçadamente, a malbaratar. Quando as dores, as provações, as dificuldades econômicas e morais, o peso dos anos e da vida, os desgostos com o cônjuge ou com os filhos afligirem o coração, levantem os olhos para o céu, onde o Pai vela pelos filhos, e o Doador de todos os bens nunca se esgota, e o Remunerador não deixa sem recompensa os que nele esperam.
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CONSELHOS AOS ESPOSOS
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“Não chameis por ela nunca duma maneira seca, mas empregai, pelo contrário, palavras aduladoras, ternas. Palavras de amor. Honrai-a e o pensamento de procurar as homenagens doutros não aparecerá, pois não terá a idéia de ir mendigar fora a afeição que encontrará em vós. Colocai-a acima de tudo pela beleza, como pela sabedoria e dai-lhe testemunho disso. Introduzi-a no amor de Deus e a vossa casa transbordará de bens. A tua mulher terá talvez bens pessoais e dirá: ‘Quando comprei isto não gastei nada do que te pertence, gastei só dos meus próprios recursos’. O quê? Depois do casamento, já não sois dois! Sois um só e pensais que há ainda duas propriedades distintas? É lamentável! Depois do casamento não formais senão um só ser, uma só vida. Por que dizeis: o teu, o meu? Esta palavra abominável e degradante é uma invenção diabólica. O criador fez um bem comum de coisas seguramente necessárias. Ninguém pode dizer: o meu sol, a minha luz, a minha água. E vós dizeis: os meus bens? Eis um vício que é preciso combater acima de tudo. Mas é preciso fazê-lo com muita delicadeza. Mostra-lhe a felicidade que tens em viver em sua companhia e que preferes a vida de casa à da cidade. Ela ocupa um lugar antes dos amigos e antes dos filhos que te deu: faz-lhe compreender que é por causa dela que tu os amas. Quando ela fizer qualquer coisa de bem, felicita-a, e admira o seu talento. Se faz qualquer tolice, não a censures por isso. Fazei a vossa oração em comum. Aprendei a nada temer neste mundo, senão a ofender a Deus. Se um homem se casa com este espírito, então o matrimônio está muito próximo da perfeição”.
Queres que a tua mulher seja submissa como a Igreja o é a Cristo? Tem para com ela a solicitude de Cristo pela sua Igreja. Em rigor, pode dominar-se um servo pelo medo. Mas a companheira da tua vida, a mãe dos teus filhos, a causa da tua felicidade e da tua alegria, não a podes encadear pelo medo e pelas ameaças. Deves prendê-la pelo amor e pela delicadeza. Que união pode existir quando a mulher treme diante do seu marido? Que alegria pode ter o marido quando trata a mulher como uma escrava? Mesmo se sofreste um pouco por ela, não lhe atires isso à cara. Cristo fez muito mais pela sua Igreja.
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Mostra-lhe a felicidade que tens em viver na sua companhia e que preferes a vida de casa à da cidade. Ela ocupa um lugar antes dos amigos e antes dos filhos que te deu: faz-lhe compreender que é por causa dela que tu os amas. Quando ela fizer qualquer coisa de bem, felicita-a, e admira o seu talento. Se faz qualquer tolice, não a censures por isso. Fazei a vossa oração em comum. Aprendei a nada temer neste mundo, senão a ofensa a Deus. Se um homem se casa com este espírito, então o matrimônio está muito próximo da perfeição”.
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ENCONTRAR UM ESPOSO
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“Se me dizes que vais aos bailes para encontrar marido, digo-te que são esses de duas qualidades: bons e maus. Se desejas um bom, por caridade não vás aos bailes; os jovens virtuosos, sérios, bons, honestos, castos, não vão buscar esposas em tais festas, bem sabem eles que em tais mercados se aglomeram e se expõem as moças levianas, corrompidas, pouco amantes da virtude, em nada zelosas do seu candor. Se porém, te contentas com um marido mau, vá aos bailes! Anda! O Apressa-te! Lá encontrarás negócio verdadeiro, encontrarás um marido digníssimo de ti, que ao cabo de seis meses reduzir-te-á a um estado deplorável. Não acrescento nada mais. O resto terás com a experiência e em medida tão copiosa que não o esquecerás para o resto da vida.”
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O MARIDO
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Maridos, amai as vossas mulheres, e não lhes sejais amargos (Col. III, 19). Amargos, com efeito, nas palavras e no trato são alguns maridos. Repreendem com aspereza; censuram de maneira áspera os defeitos das mulheres; lançam-lhe de contínuo em rosto as faltas; tocam até no melindre do nascimento, nos pais delas, no diminuto dote que trouxeram, em sua falta de beleza; o que tudo são bocados amargosos que eles lhes dão a devorar; donde redundam muitas perturbações na família. Ó maridos! ouvi S. Paulo: Amai vossas mulheres, como Jesus Cristo amou a sua Igreja, e não sejais amargos para com elas! Entrai em vossas casas com vulto sempre sereno, e com um doce sorriso nos lábios. S. Bernardo, ao entrar na Igreja, dizia: “Cuidados, ficai aqui que eu já volto…” Dizei o mesmo ao entrar no santuário de vosso lar: “Enfados, tristezas, trabalhos, embaraços de negócios, ficai-vos aqui fora, que eu logo volto”. E aparecei à vossa esposa, à vossa família, como o sol, irradiando sobre todos luz, alegria, conforto. Oh! não imiteis aqueles que são melífluos, cheios de afagos e agrados só com as pessoas de fora; que ainda diante das visitas, mostram ótimo semblante aos de casa; mas, logo que elas volvem as costas, fecham o rosto, e continuam enfadados, cheios de azedume, insuportáveis. Lembrai-vos que essa querida companheira, que esses entes estremecidos vivem convosco, vivem da vossa mesma vida, dentro do estreito recinto da mesma casa; e que tudo o que eles podem gozar de paz, de contentamento, de serena felicidade, vem principalmente de vós, que sois o centro e a alma desta pequena tribo.
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O AMOR QUE DEVES TER PELA TUA ESPOSA
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“O sentir-se necessária, a encherá de satisfação. Procura reconhecer e agradecer as atenções e delicadezas que tua mulher tenha contigo.” O marido não deve considerar sua casa como uma pensão onde só se vai dormir. Deve dedicar tempo à sua mulher e a seus filhos. Deve saber fazer sentir à sua mulher que necessita dela. O sentir-se necessária, a encherá de satisfação. Procura reconhecer e agradecer as atenções e delicadezas que tua mulher tenha contigo. Diz-lhe que a comida que te preparou está muito boa. Mas nunca lhe diga que tua mãe fazia melhor, ainda que seja verdade. Que não se sinta menosprezada, mas animada a fazer as coisas a teu gosto. E se as coisas não estão a teu gosto, diga a ela, mas com carinho. Espera o momento oportuno, quando estiverem sós, e com carinho diz-lhe docemente o que queres.
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A CONTINÊNCIA SEXUAL DOS ESPOSOS
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Pode, com efeito, suceder que a saúde, à insuficiência de recursos, os estorvos à boa educação dos filhos obriguem os esposos a contentar-se com restrito número de herdeiros. Neste caso deverão, de comum acordo, impor-se o doloroso esforço da continência. Bem sei que uma aberração moral encontradiça gerou o hábito de impor somente à mulher todas as restrições e sofrimentos que acarreta a disciplina sexual. A ela corre o dever de aceitar numerosas concepções e de subordinar-se às exigências sexuais do marido; a este a liberdade de agir como bem lhe quadre. Como se a lei moral coagisse a mulher a todos os sacrifícios e autorizasse o homem a todos os gosos da carne.
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Para a mulher o ato sexual compreende duas fases que se completam. Uma, seguida, como para o homem, de alegrias e prazeres, é a da união sexual. A outra composta de longos meses de gravidez, ultima-se com as dores do parto. Esta lei que ao mesmo ato sexual traz prazer e sofrimento, não toca só à mulher? E o homem não deve, acaso, partilhar com a esposa a dolorosa fase da vida sexual? E pode-se lá aceitar haja Deus permitido que o verdadeiro amor imponha sacrifícios só a um dos cônjuges? Isto não pode ser assim e, de fato, não é. As disposições físicas e, por consequência, as disposições morais do filho serão tanto melhores se ele se desenvolver sem que o seu organismo em formação sofra os embates das tensões nervosas que acompanham, necessariamente, o ato sexual. O bem do filho e o da mulher exigem, assim, do homem um período mais ou menos longo de abstinência. Os sacrifícios que à mulher impõe a concepção compensam-se, no homem, pela pungente aceitação de uma abstinência mais ou menos longa. A lei que rege a vida sensorial é análoga, quer a consideremos num sexo, quer noutro.
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O AMOR DO ESPOSO
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O amor do Esposo, ou antes o Amor Esposo, não pede senão correspondência e fidelidade. A amada deve, portanto, retribuir com amor. Como pode a esposa não amar, sobretudo se é a esposa do Amor? Como pode o Amor não ser amado? Com razão renuncia a qualquer outro afecto e se entrega total e exclusivamente ao Amor a alma consciente de que o modo de corresponder ao amor é retribuir com amor. Na verdade, mesmo quando toda ela se transforma em amor, que é isso em comparação com a torrente perene que brota daquela fonte? Evidentemente, não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, da criatura e do Criador; há entre eles a mesma diferença que entre a fonte e quem dela bebe.
Sendo assim, ficará sem qualquer valor e eficácia o desejo da noiva, o anseio de quem suspira, a paixão de quem ama, a esperança de quem confia, porque não pode acompanhar a corrida do gigante, igualar a doçura do mel, a mansidão do cordeiro, a beleza do lírio, o esplendor do sol, a caridade d’Aquele que é a caridade? Não. Porque embora a criatura ame menos, porque é menor, se todavia ela ama com todo o seu ser, nada fica por acrescentar. Nada falta onde está tudo. Por isso, este amor total equivale ao desposório, porque é impossível amar assim sem ser amado, e neste mútuo consentimento de amor consiste o autêntico e perfeito matrimónio. Quem pode duvidar de que a alma é amada pelo Verbo, antes dela e mais intensamente?
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A IMPORTÂNCIA DO ESPOSO NO LAR
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Numa casa onde o marido entra com um sorriso alegre e uma boa palavra nos lábios, mesmo que a atmosfera esteja triste, a sua chegada espalha luz e calor. A mulher trabalha com mais gosto, ela tem a impressão de que o trabalho sai espontaneamente das mãos. E como os filhos se sentem satisfeitos: “É papai que chegou! É papai que chegou!” Todos se põem a contar-lhe as suas alegrias e tristezas, entusiasmem-se e riem, todos sentem o prazer da vida. Tal é o poder do homem, quando ele é dedicado e bondoso.”
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OBRIGAÇÕES DOS MARIDOS
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1. Amar a sua mulher, como Jesus Cristo ama a Igreja.
2. Não desprezá-la, porque é companheira inseparável.
3. Dirigí-la como inferior.
4. Ter cuidado dela, como guarda de sua pessoa.
5. Sustentá-la com decência.
6. Sofrê-la com toda paciência.
7. Assistí-la com caridade.
8. Corigí-la com benevolência.
9. Não maltratá-la com palavras nem obras.
10. Não fazer nem dizer coisa alguma diante dos filhos, ainda que pequenos que possa ser para eles motivo de escândalo.
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OBRIGAÇÕES DAS ESPOSAS
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1. Estimar o marido.
2. Respeitá-lo como a sua cabeça.
3. Obedecer-lhe como a seu superior.
4. Assistí-lo com toda a diligência.
5. Ajudá-lo com reverência.
6. Responder-lhe com mansidão.
7. Calar quando estiver zangado e enquanto durar a zanga.
8. Suportar com paciência seus defeitos.
9. Repelir toda a familiaridade.
10. Cooperar com o marido na educação de seus filhos.
11. Não desperdiçar as coisas e os bens de casa.
12. Respeitar os sogros como pais.
13. Ser humilde com as cunhadas.
14. Conservar boa harmonia com todas as pessoas da casa.
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O AMOR PARA COM O MARIDO
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‘’Deves ser, querida irmã, cuidadosa e cheia de atenções para com a pessoa do teu marido. Trata dele amorosamente, conserva sempre asseada a sua roupa, pois é essa a tua obrigação. Pertencem aos homens os negócios de fora; deles se deve ocupar o marido, indo e vindo, correndo dum para outro lado, à chuva, ao vento, à neve, ao granizo, debaixo de água ou de sol, alagado em suor, ou tiritando de frio, mal alimentado, mal albergado, mal aquecido, mal deitado. Mas nada lhe faz mal, pois o anima a esperança dos cuidados da mulher que o esperam no regresso ao lar… como o de se despir diante de um bom fogo, e lavar os pés, e envergar outras calças, e calçar sapatos enxutos, e tomar uma boa refeição, bem bebido, bem servido, bem obedecido, bem deitado em lençóis brancos, bem agasalhado com cobertores, a cabeça bem resguardada, e cumulado de outras alegrias e cuidados, intimidades, afetos e segredos que eu calo. (…) Por isso, querida irmã, eu te peço que, para não perderes nunca o amor e o agrado de teu marido, sejas sempre meiga, amável e indulgente para com ele.’’
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O MISTÉRIO DA MULHER
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A vida da mulher é mais silenciosa e recolhida que a do homem mas, do fogo do lar pode ela fazer fogo de um altar sagrado onde oferecer-se, dia a dia, silenciosamente, até ao holocausto.
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Quando contemplo uma cruz coroada de rosas, penso no meu íntimo: este é o símbolo da vida da mulher, a cruz escondida entre as rosas! A vida e a vocação da mulher não são sempre rosas, mas também não são sempre cruz. Lado a lado, caminham rosas e cruz. Em resumo, viver para os outros, procurar por todos os meios a felicidade dos outros, ainda que se desfaça em sangue o coração!
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Uma frase de Leon Bloy, digna de ser meditada: Quanto mais santa é uma mulher, tanto mais é mulher. E também tem valor permanente o pensamento de Schiller: Honra a mulher! Ela tece rosas no caminho da vida, tece o feliz vínculo do amor e, oculta sob o véu da graça, alimenta vigilante, com mãos sagradas, o eterno fogo dos sentimentos nobres.
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A MULHER VIRTUOSA
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“Um amigo fiel é um tesouro que excede ouro e prata. Mas uma mulher prudente e razoável é dom do céu. Merece ser procurada. Assim pensa o sábio da Escritura. Nada mais justo, portanto, que o moço procure uma virtuosa companheira e para tanto se imponha sacrifícios. Ganhar a simpatia, possuir o amor, ser o “sonho” de uma privilegiada criatura, bem merece isso uma série de sacrifícios na vida do moço.”
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O SACRIFÍCIO DA MULHER
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“A mulher é capaz de sustentar o sacrifício por mais tempo que o homem. O homem é mais apto a ser herói em uma grande e apaixonada explosão de coragem. Mas a mulher é heróica através dos anos, meses e até mesmo segundos da vida cotidiana, além da própria repetição de sua labuta dando-lhe aparência de trivialidade. Não apenas seus dias, mas suas noites, não apenas sua mente, mas seu corpo devem compartilhar do Calvário da Maternidade. Ela tem, portanto, uma maior compreensão da redenção do homem, pois ela chega mais perto da morte ao trazer vida”.
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A MULHER NA PROCRIAÇÃO
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Marido e mulher são chamados a colaborar com Deus na criação de um outro ser humano. Mas eles precisam se lembrar de que, sendo criaturas, eles só podem “procriar”, não criar. Se o corpo do marido não tiver espermatozóides vivos, se o corpo da mulher não tiver óvulos, o processo de fertilização não poderá ocorrer. Certa matéria pré-existente não é só necessária, mas essencial para que a procriação se realize. Deus sozinho pode criar a alma, mas ela não pode se originar de apenas um dos pais. A alma não é feita de nenhuma matéria pré-existente. Ela é uma criação totalmente nova. Os seres humanos não são capazes de produzir algo a partir do nada.
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O papel especial dado à mulher na procriação, é realçado pelo fato de que, logo que ela concebe (e a concepção ocorre horas depois do abraço marital), Deus cria a alma da nova criança no corpo dela. Isso implica um “contato” direto entre Ele e a futura mãe, um contato em que o pai não desempenha papel algum. Esse contato dá o corpo feminino uma nota de sacralidade, pois qualquer proximidade entre Deus e uma de suas criaturas é marcada por seu Selo Sagrado. Esse “toque” divino é novamente um privilégio exclusivamente feminino que toda mulher grávida deve reconhecer com gratidão.
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A ORDEM DA ESPOSA NO LAR
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A ordem agrada, principalmente, a Deus, Deus ama a ordem, porque Ele mesmo é ordem, a mais maravilhosa e a mais amável harmonia. Unem-se nEle as três Pessoas, numa perfeita unidade de substância; nEle estão todos os atributos em perfeita consonância entre si — a justiça com a misericórdia, a onipotência com a bondade, a majestade com a assombrosa singeleza de Seu amor; todos os Seus atributos infinitos formam a unidade absolutamente perfeita do Seu Ser, numa ordem e harmonia inconcebíveis. Não há nEle a menor sombra de desordem ou dissonância. Assim como Deus ama a ordem, também tu deves ter sempre em vista um método em tua vida e nos teus trabalhos, seguindo assim a admoestação do Apóstolo dos gentios: “Faça-se tudo decentemente e com ordem”. (I Cor. 14,40).
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Levanta-te cedo pela manhã, para que possas, à hora marcada, começar a tua obrigação. Nunca comeces tarde, nem um instante sequer. Executa cada parte da tua tarefa, com atenção e consciência. O que puderes fazer agora, não o transfira para a hora seguinte, nem deixes para amanhã o que deve ser feito hoje. Sobretudo não descuides a limpeza nos teus deveres e o asseio de tua pessoa. Causa tão má impressão uma jovem, desasseada no seu ofício e no seu vestir! Deves ter certa ufania de ser em tudo exata, pontual e limpa. Assim, também, para que a vida de virtudes produza em ti frutos preciosos, necessitas da presença da graça, comunicada por meio da oração. Por conseguinte, faze sempre e com todo o escrúpulo, dia a dia, a tua oração de manhã e à noite, e estabelece como norma de vida, receber, regularmente, os santos Sacramentos.
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O EXAME DE CONSCIÊNCIA DE UMA FUTURA ESPOSA
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“É impossível que também uma jovem séria, no instante de casar-se não faça, igualmente, um bom exame de consciência. Deve refletir: Serei uma boa esposa, boa mãe de família, boa dona de casa? Há, em mim bastante fidelidade e amor, bastante espírito de renúncia e amor ao trabalho, bastante energia e indulgência, bastante profundidade e amor de Deus, para realizar esta tríplice e pesada tarefa de esposa, mãe e dona de casa? Há em mim mais vida interior que vaidade? Amo eu mais o lar, que a vida mundana? É isto difícil, penoso, será um perpétuo sacrificio, mas serei mil vêzes indenizada de todas estas renúncias, de todas estas vigilias, de todos estes trabalhos, quando ouvir estas palavras: Mamãe, Mamãe!”
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A DOÇURA NO SEIO DA FAMÍLIA
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Existem muitas pessoas, mesmo devotas, que rezam, que levam a sério a santa religião católica e que nas relações sociais com estranhos são muito afáveis, bondosas, humildes, indulgentes, mas que, no seio da família, são ásperas, orgulhosas, de pouca consideração. Com esse comportamento dentro de casa tornam-se a cruz e o tormento para os familiares. Com a conduta áspera dentro de casa, contradizem toda essa bondade que apresentam diante dos outros publicamente. Nesse momento, marido já está pensando: minha esposa é assim. A esposa já está pensando: meu marido é assim. E os mesmos pensamentos entre pais e filhos. Esqueçam um pouco o outro e pensem em si mesmos. Todos nós padecemos desse mal, em maior intensidade ou menor. Olhe para si mesmo em primeiro lugar. Marido, olhe para si mesmo. Esposa, olhe para si mesma. Pais, olhem para si mesmos. Filhos, olhem para si mesmos.
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Desse tipo de pessoa, São Francisco de Sales diz que são anjos na rua e demônios em casa. É preciso, então, pedir a Deus e trabalhar para que se tenha a mansidão, a doçura dentro de casa. E que não seja uma doçura meramente exterior e ocasional, mas que ela seja constante, sincera, fruto da humildade e da caridade. É preciso ser bom, afável, com todos, mas principalmente com os da própria família. Que triste é ver, em um lar, o deplorável espetáculo da frieza, da desconsideração, das palavras injuriosas ou grosseiras. Que triste ver, em um lar, o deplorável espetáculo dos arrebatamentos de ira e de orgulho. Que triste ver germinar a semente da falta de afeto e da desarmonia entre as pessoas que mais deveriam se amar, que mais deveriam se ajudar nas coisas espirituais e nas coisas temporais. Ao contrário, quão consolador é ver, em um lar, uma santa cordialidade e afabilidade entre os membros da família. Assim deve ser cada um no seio de sua família: bom, cordial, afável, ainda que os outros membros da família não o amem, e seria preciso sacrificar-se nessa bondade, nessa doçura por amor a Deus e ao próximo.
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OS FILHOS
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“Aquele filho que o casal quer evitar — sem ter uma causa grave para tanto — é o filho que, talvez, nos planos de Deus iria mudar a família, como São Bernardo, que levou para a vida religiosa mais de trinta familiares. Ou talvez o filho que o casal queira evitar seja aquele que pode trazer grandes benefícios para a sociedade. Pode ser o santo de que nossa época tanto precisa. É preciso confiar também na providência divina. Se Deus manda um filho aos pais que permanecem fiéis e generosos, ele dará os meios para que os pais possam, cooperando com a graça divina, educar o filho e ajudá-lo a se salvar. Deus não pode nos pedir nada que seja impossível. Mas é preciso também recorrer a Ele. Grandes graças estão reservadas para o casal que confia na providência divina, aceitando todos os filhos que Deus manda.”
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OS FILHOS II
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A prole é dom de Deus. O Senhor da vida é só quem a comunica. Ele é que chama, como e quando quer, à existência os entes que estão eternamente presentes como possíveis em sua Inteligência infinita. Por isso dizia com razão aos filhos a heroica mãe dos Macabeus: Eu não sei como fostes formados em minhas entranhas, pois nem fui eu quem vos deu a alma, o espírito e a vida, nem quem uniu os vossos membros para deles fazer um corpo; mas o Criador do mundo é que formou o homem em seu nascimento, e deu origem a todas as coisas; e também Ele é que vos restituirá o espírito e a vida por sua misericórdia (II Mac. VII, 22). Como Sara, Raquel e Ana, mãe de Samuel, podeis pois, pedir a Deus vos dê filhos, mas não deveis afligir-vos demasiadamente, se Ele vo-los recusar; pois muitas vezes permite Ele a esterilidade nos bons por várias ocultas razões muito para reconhecer e adorar. Um só filho que teme a Deus, diz a Escritura, vale mais que mil filhos maus; e mais vantajoso é morrer sem filhos do que deixar filhos ímpios (Ecle. XVI, 4). Deus muitas vezes os recusa por prevê que serão maus e infelizes. De Judas não diz o Evangelho que bom era para ele não ter nascido (Mat. XXVI, 24)? Outras vezes atende assim o Senhor ao verdadeiro bem dos pais. Quantos se condenam pelo excessivo amor dos filhos, ou pelo desregrado apego às riquezas que acumulam com toda a casta de injustiças, para lhes deixar vultosas heranças! Quantas outras estéreis no corpo se tornam mais fecundas no espírito, multiplicando as boas obras, e derramando com mão mais larga esmolas no seio da pobreza! Os caminhos do Senhor são cheios de sabedoria, e tudo Ele dispõe para nosso bem. Mas se Deus em sua misericórdia vos concede filhos, oh! então, pais e mães, trabalhai por cumprir religiosamente os importantes deveres de vosso cargo.
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A EDUCAÇÃO DOS FILHOS
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O fim da educação é a virtude nesta terra, quer dizer a santidade, e a glória eterna na outra vida. Ora, a virtude consiste numa disposição muito bem enraizada para agir bem, fazendo o que é bom, por um bom motivo e nas circunstâncias devidas. Todavia, essa disposição bem enraizada para agir bem, que é a virtude, adquire-se pela repetição dos atos. Assim, quanto mais cedo aprendemos a agir bem, maior facilidade teremos para agir bem posteriormente. Isso quer dizer que a educação deve começar o mais cedo possível, mesmo quando a criança ainda não entende perfeitamente as coisas. Por isso, levamos a criança à Missa desde cedo, ensinamos à criança a rezar, a manter-se bem vestida, a respeitar as coisas sagradas. Aquilo que a criança aprender na sua infância e adolescência dificilmente deixará de praticar na idade adulta. Diz a Sagrada Escritura que mesmo quando a criança envelhecer, não se afastará de seu caminho (Prov. XXII, 6).
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Além disso, como no início o homem é como uma tábua rasa, aprender o bem é muito mais fácil, pois a criança ou o jovem não tem disposições ruins, além daquelas que são consequência do pecado original. Por outro lado, deixar o mal ao qual a pessoa já se habituou é uma tarefa dificílima. É imperioso, dessa forma, acostumar as crianças desde já a praticar o bem e a evitar o mal. A Sarada Escritura diz: Ensinar desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado (Tob. I, 10). Agora, como começar a educação de alguém que ainda não atingiu a idade da razão? Aristóteles e depois São Tomás dizem que a virtude nada mais é do que alegrar-se com aquilo que é bom e entristecer-se com aquilo que é mau. Dessa maneira, a melhor forma de educar uma criança é fazer que ela se alegre com o bem que ela faz e que ela se entristeça com o mal. É preciso, então, recompensar as boas ações e punir as más, mesmo que ela não tenha plena consciência de uma ou de outra. Ela passará a gostar de fazer o bem e odiará fazer o mal. Ela vai aprender com isso, que nossas ações têm uma consequência, merecendo um prêmio ou um castigo nesta terra, mas também depois da morte.
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A EDUCAÇÃO DOS FILHOS II
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Os filhos são como um depósito dado por Deus aos pais e do qual eles deverão prestar contas. Os pais devem ensinar a devoção à Maria Santíssima, em particular um apreço enorme pelo Terço. Os pais devem, desde o momento do casamento, rezar pelos filhos, oferecer sofrimentos e penitências pela santificação dos filhos… suportando os defeitos das crianças, oferecendo as noites em claro para cuidar dos filhos. Querer o verdadeiro bem do filho não é realizar todas as suas vontades, ou dar abundantes brinquedos. Aliás, a abundância de brinquedos acostuma a criança a buscar sempre a novidade e ser superficial e depois ela não conseguirá controlar seus desejos. Querer o bem é permitir e ensinar à criança a fazer a vontade de Deus. Para tanto, é preciso também corrigir o filho, sempre que ele ande pelo mau caminho. A Sagrada Escritura diz: Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa. (Prov. XIII, 24). A correção, que é aparentemente um mal, visa a um bem infinitamente superior: a virtude, a santidade. Se os pais amam o filho eles devem repreendê-lo e castigá-lo quando ele comete uma falta, mas claro devem castigá-lo de maneira proporcional. Os pais devem proteger os filhos evitando todo tipo de pecado e sobretudo os relativos ao uso do matrimônio para que o demônio não seja atraído para a casa. Devem também usar os sacramentais para proteger a família: água benta, objetos abençoados, abençoando a casa. Aquele que tiver educado bem os filhos neste mundo será dignamente recompensado. Os pais se assemelham a Deus que por sua Revelação vai nos ensinando o que há de mais importante na nossa vida e nos conduz pela mão a fim de que possamos adorá-lo eternamente. Que os pais tenham na mente esse preceito de Cristo: “Deixai vir a mim as criancinhas” (Mc X, 14).
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IMODÉSTIA DOS FILHOS
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Basta uma moça se vestir modestamente para que suas ridículas mães venham desencorajá-las, e até mesmo impedi-las. Leve em consideração as sérias admoestações do Papa Pio XII: “Ó mães cristãs (e pais), se soubésseis o futuro de aflição e perigo, de vergonha mal contida, que vós preparais para os vossos filhos e filhas ao os acostumarem de modo imprudente a viverem parcamente vestidos e fazendo-os perder o senso de modéstia, teríeis vergonha de vós mesmos e do mal dado àqueles pequenos que o Céu confiou aos vossos cuidados para serem instruídos na dignidade e na cultura Cristãs”.
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Este aviso deveria fazer com que os pais considerassem mesmo as modas infantis: roupas que com dificuldade cobrem as fraudas e que têm somente alças e não mangas, vestidinhos para meninas que deixam a frauda completamente exposta e peças que não cobrem absolutamente nada das pernas. A Bíblia nos ensina: “Ensina uma criança no caminho que ela deve seguir”. E de impressionar que essas crianças, com o passar do tempo, seguindo estes caminhos vergonhosos, tenham perdido o senso de modéstia? A partir das modas infantis seminuas, o vagalhão da imodéstia engoliu todas as faixas etárias de ambos os sexos até o mais alto grau de nudez.
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A EDUCAÇÃO DOS FILHOS III
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A criança é uma planta delicada que precisa do sol claro da alegria e da paz para florecer normalmente, inclinando-se franca e generosamente para o bem. Se tem de haver-se com temperamentos nervosos, com pais que se desmandam constantemente e, por ninharias, se entregam a acessos de mau humor, vê-la-emos fechar-se, aprender a mentir para evitar-lhes os choques, perder toda a coragem moral, toda a boa vontade. O bom humor e o perfeito equilíbrio do carácter obrigam, porém, o menino a valorizar os conselhos ou as ordens que se lhe dão, permitindo-lhe à alma que se desabroche e confie, sem reservas, nos pais para os numerosos esforços que há-de realizar na formação de sua vontade e moral.
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Para manter-se o bom humor é mistér pensar-se nos outros mais que em si mesmo, em Deus mais que nos outros. Esta lei seria abusiva se devesse, praticamente, levar ao perpetuo sacrifício e ao acoroçoamento indefinido do egoísmo alheio. Assim fôra se a lei se aplicasse a uma parte, apenas, dos membros da família. Se, ao contrário, todos a ela se submetem de boa mente, trará, como resultado natural, um equilibrio e uma reciprocidade admiráveis entre os incômodos que uns sofrem e as alegrias que de outros procedem. Deve, ainda, a lei, abranger os filhos como os pais. É preparar boa soma de desilusões pretender secundar os caprichos da criança, ao em vez de ensiná-la a sacrificar certos desejos, mesmo legítimos, ao afeto dos seus e à paz comum. Menino muito mimado é atrabiliário pelo simples impulso de seu egoísmo exigente. Menino afeito a sacrifícios, facilmente avassala os ímpetos espontâneos de seu carácter. Aliás a afeição da criança propende, naturalmente, a quem mais lhe pede, graças ao vago sentimento de que exigir maior soma de esforços é conduzi-la a um viver mais bélo e harmonioso. Menino mimado senhoreia as pessoas que o mimam. Mete as, literalmente, em escravidão e, assim, destrói todas as alegrias familiares.
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A IMPORTÂNCIA DA MÃE NA VIDA ESPIRITUAL DO FILHO
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O dever mais sagrado da mãe consiste em ensinar o filho a rezar. Ensina-lhe a levantar o seu olhar para o céu e a esperar dele o bem, o consolo e a ajuda. Ensina-lhe a reverenciar a santa cruz do Senhor e a beijá-la com devoção. Nestes primeiros anos, a mãe é sacerdotisa e mestra do filho, através da sua própria vida. Quando o filho cresce, deve integrar-se paulatinamente na oração familiar. Pai, mãe e filho constituem uma pequena igreja e na igreja é preciso rezar. Ainda me lembro com alegria do tempo da minha infância! Eu e meus dois irmãos rezávamos com a mãe o Pai-Nosso, a Ave-maria, o credo, os dez mandamentos da lei de Deus e os cinco da Igreja. A princípio, pensávamos que tudo eram orações vocais e não reparamos que, por esse meio, a nossa mãe tinha começado a nossa instrução religiosa. Alegra-me também a recordação da primeira vez que nos levou à igreja: “Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor”. Alguma “prudente” devota terá, porventura, ficado aborrecida por termos sido levados a tão novos à Igreja mas, para nós, foi muito bom, porque as almas infantis devem encontrar-se num ambiente imbuído de sobrenatural o mais depressa possível.
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A EDUCAÇÃO CATÓLICA DOS FILHOS IV
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Os pais devem ensinar aos filhos as verdadeiras máximas da vida e não as máximas mundanas. Assim, longe dos pais católicos dizer aos filhos: “É essencial ser estimado pelos outros”; “Deus é misericordioso, no final perdoará teus pecados”. Os bons pais têm outra linguagem. Como Santa Branca, mãe de São Luís, eles dizem: “Meu filho, eu prefiro te ver morto no meu braço que em estado de pecado”; ou dizem: “o que vale ganhar o mundo inteiro, se nós perdemos a nossa alma”, ou “tudo se perde, mas não percamos Deus”. E finalmente aquela máxima de São Domingos Sávio: “Antes morrer do que pecar”. Uma dessas máximas bem impressas no espírito de uma criança bastará, como nos diz Santo Afonso, para que a criança se mantenha toda a sua vida em estado de graça.
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O CUIDADO COM OS FILHOS
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Vós pais de família, proibi a vossos filhos a leitura de romances: estes causam muitas vezes maiores danos que os livros propriamente imorais, porque deixam nos corações dos jovens certas más impressões que lhes roubam a devoção e os induzem ao pecado. S. Boaventura diz (De inst. nov., p.1, c. 14): “Leituras vás produzem pensamentos vãos e destroem a devoção”. Dai a vossos filhos livros espirituais, como a história eclesiástica, ou vidas dos santos e semelhantes. Proibi a vossos filhos representar um papel qualquer em comédia inconveniente e mesmo a assistência a representações imorais. “Quem foi casto para o teatro, de lá volta manchado”, diz S. Cipriano. Se para lá se dirigiu aquele jovem ou aquela donzela em estado de graça, de lá voltam ambos em estado de pecado. Proibi também a vossos filhos a ida a certas festas, que são festas do demônio, nas quais há danças, namoros, canções impudicas, gracejos e divertimentos perigosos. Onde há dança, celebra-se uma festa do demônio, diz S. Efrém.
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A EDUCAÇÃO DAS MENINAS
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‘’As mulheres nasceram para moderados exercícios; porquanto seu corpo e sua mente são menos fortes e robustos que o dos homens; por outro lado, a natureza outorgou-lhes indústria, asseio e economia para ocupá-las sossegadas em suas casas. Porém, que resultado brota da natural fraqueza das mulheres? Quanto mais débeis são, mais importante é que se fortifiquem. E não possuem elas deveres a cumprir? E deveres nos quais se escora a vida humana? Não são as mulheres que arruínam ou edificam a casa, que regulam a miudeza dos objetos caseiros e que, por conseguinte, decidem mais de perto o que diz respeito a todo o gênero humano? Eis como elas colhem a principal parte nos bons ou maus costumes de toda a gente. Uma mulher judiciosa, aplicada e cheia de religião, é a alma de uma grande casa, na qual verte ordem para os bens temporais e para a salvação. Até os homens, que toda autoridade possuem em público, nenhum bem efetivo podem estabelecer mediante suas deliberações se as mulheres não os ajudam a executá-las.
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Não é o mundo um fantasma, é o conjunto de todas as famílias. E quem, com mais exato cuidado, pode civilizá-las que as mulheres, as quais além de seu natural mando, atentam ainda ao predicado de haverem nascido cuidadosas, atentas nos detalhes, industriosas, insinuantes e persuasivas? E podem acaso os homens esperar para si mesmos alguma doçura na vida se a sua mais estreita sociedade, que é o matrimônio, se torna amarga? E o que será dos filhos, que comporão o gênero humano no futuro, se as mães os estragam em seus tenros anos? Eis, pois, as ocupações das mulheres; ocupações não menos importantes ao público que as dos homens, visto terem uma casa a dirigir, um esposo a fazer feliz e filhos a bem educar.’’
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OS DEVERES PARA COM OS AVÓS
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O número de avós que vivem solitários, mais ou menos abandonados pelos filhos, vai crescendo dia a dia. Assim, pois, como esperar alguém para os seus as bênçãos de Deus, como habituar os jovens ao sacrifício de alguns de seus cômodos, se não começar por dar-lhes o exemplo da gratidão e do devotamento para com os que consagraram a melhor de suas existências a educa-los, inculcando-lhe os princípios da vida moral que constituem o melhor de nós mesmos? Outrora os avós viviam no seio da família. Era um prazer o cercá-los dos mil cuidados que sua idade exigia; suportávamos fácil e cristãmente suas enfermidades e fraquezas, felizes porque, assim, aprendíamos a praticar a dedicação familiar. Hoje em dia os toleramos, quando muito, e, o mais das vezes, abandonamo-los a uma solidão penosa e lamentável. A família cristã deve reagir, com todas as energias, contra este censurável indiferentismo. Os que podem, devem manter consigo seus avós. Se isto não é possível, hão-de, ao menos, assisti-los para um termino de vida honroso. Exijam-se, embora, sacrifícios de tempo e dinheiro, é mister sejam feitos com alegria e bom humor, sem nunca procurar justificativas a atitudes indiferentes e egoístas a conta de pretensas obrigações ou afazeres excessivos.
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Notas:
- O namoro — Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
- Noivos e Esposos — Padre Álvaro Negromonte
- Papa Pio XII
- Anjo de luz — Pe. Júlio Maria
- Padre Álvaro Negromonte — Noivos e Esposos II
- Descobrindo a castidade — Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
- Noivos e Esposos — Mons. Álvaro Negromonte
- François Fénelon a educação das meninas
- Escola da Perfeição Cristã — Santo Afonso Maria de Ligório
- A educação católica dos filhos — Padre Daniel Pinheiro, IBP
- Noivos e Esposos — Mons. Álvaro Negromonte
- São João Crisóstomo
- A Colina de Sião — Gino Di Sant’Agnese
- O livro da Família — D. Antônio Macedo Costa
- Padre Jorge Loring
- Moral Familiar — Abade Jean Viollet
- São Bernardo de Claraval
- Hans Wirtz — Do Amor ao Casamento
- Caminho reto e seguro para chegar ao céu — Santo Antônio Maria Claret
- L. de La Brière. ‘’La Jeune mariée, conseils donnés en 1393 par Pierre de Roubaix’’. Paris: P. Téqui, 1907
- Cardeal Mindszenty, A Mãe
- Perante a Moça — Pe. Geraldo Pires de Sousa C.Ss.R.
- Venerável Fulton Sheen
- O privilégio de ser mulher — Alice Von Hildebrand
- Pe. Matias de Bremscheid — Donzela cristã
- Monsenhor Tihamer Toth, Casamento e Família.
- A doçura no seio da família — Padre Daniel Pinheiro, IBP.
- Padre Daniel Pinheiro, IBP Sobre os Filhos
- O Livro da Família — Dom Antônio Macedo Costa
- O Livro da Família — Dom Antônio Macedo Costa
- Padre Daniel Pinheiro sobre a educação dos filhos
- Guia Mariano de Modéstia
- Abade Jean Viollet — Moral Familiar
- A mãe — Cardeal Mindszenty
- Moral Familiar - Abade Jean Viollet