Comentário à Ladainha de Nossa Senhora

Eduardo Moura
6 min readApr 8, 2024

--

Por Pe. Calmel O.P.

Caros católicos, no presente texto do Pe. Calmel, ele explica o significado místico e espiritual de algumas invocações que realizamos à Santíssima Virgem Maria na recitação de sua ladainha. Para melhor compreender esta belíssima oração, urge realizar uma catequese breve sobre cada um dos belos títulos e invocações que Maria recebeu, pela tão bela obediência e humildade que nos mostrou.

Sobre a ladainha

Na ladainha invocamos a bela e toda Santa Mãe de Deus, Nossa Senhora sucessivamente em várias prerrogativas distintas que aliás se completam: sob seus títulos de Mãe e de Virgem, como obra prima de Deus designada em figuras e símbolos, como socorro em toda espécie de aflições e finalmente como rainha por excelência, nosso Perpetuo Socorro e Rainha do Céu, Regina Caeli, aclamamos e bendizemos está mulher como: Mãe de Jesus Cristo; Mãe da divina graça; Mãe Puríssima; Mãe Castíssima; Mãe Imaculada; Mãe Intacta; Mãe Amável; Mãe Admirável; Mãe do Bom Conselho; Mãe do Criador; Mãe do Salvador…Virgem Prudente; Virgem venerável; Virgem louvável; Virgem poderosa; Virgem Clemente; Virgem Fiel.

Algumas dessas desinências pedem uma palavra de esclarecimento à luz da Tradição, do Magistério e das Escrituras. Espelho de justiça: o termo justiça é usado no sentido bíblico de santidade; o justo é um santo diante de Deus, e diz da Virgem que ela é espelho de justiça por ser ela quem melhor reflete a santidade de Deus. (Ef 6, 13–14): Nós somos encorajados a vestir a armadura de Deus (que é a couraça da justiça, o justo é santo e irrepreensível), ele se veste na cintura com o cíngulo da verdade para assim resistir às armadilhas do Diabo. O termo vaso, vem por três vezes repetido, tem também o seu sentido bíblico: Vaso Espiritual; Vaso Honorifico, Vaso Insigne de Devoção. Neste caso parece legítimo dar-lhe a significação de ser, de criatura. Maria é vaso espiritual porque é a criatura predileta e perfeita de Deus, a única e singular criatura humana criada por Deus, Ela diz: (Eclo 24, 5): Saí da boca do Altíssimo; nasci antes de toda criatura. Pois ela que foi sempre residência do Espírito Santo, toda espiritualizada e interna nas coisas de Deus. É vaso honorífico no sentido de que é digna de toda honra mais do que qualquer criatura no céu e na terra, por ser ela Mãe de Deus.

Finalmente como Nossa Senhora nunca deixo de ser devotada aos desígnios de Deus, toda obediente – ao seu mais alto desígnio que é a encarnação redentora – reconhecemos ser ela animada por insigne devoção: eis a serva do senhor. Ninguém ignora que a rosa é o símbolo de amor. Já que Maria é cheia de graça [κεχαριτωμένη], toda agraciada, ela é identificada como a graça de maneira singular, e por amor nós a proclamamos Rosa mística. Maria nos protege com força e inteligência de mãe contra a Serpente infernal [aquela do Éden e que se manifesta como um dragão no Apocalipse] e, seus sequazes, companheiros na perdição, por isso pode ser comparada à uma torre. Ela nos protege tanto mais firmemente contra os liames do pecado porque ela própria nunca a eles deu a menor deixa, é pura, imaculada, sem a inclinação ao pecado, é o que sugere refletir a pureza, embora palidamente, a cor do marfim. Pureza e proteção estão sempre conexas nas intervenções de Nossa Senhora, por isso é Torre de marfim. Sustentáculo da pureza. Em seu seio virginal Maria deu ao Filho de Deus a natureza humana, é comparada, então, a uma moradia de beleza inestimável, rica em graça: por isso A invocamos como: Casa de ouro, o primeiro sacrário, local no qual Deus fez sua morada. A arca da aliança, aquela antiga que abrigava somente as Tábuas da Lei, mas Maria [nossa nova arca] abrigou aquele que o céu e a terra não podem conter, Deus se fez homem inteiramente no seio puríssimo desta Virgem, recebendo de sua humilde carne a matéria humana, o fiat de Deus fez o mundo, mas o fiat de Maria foi maior em graça, pois nos trouxe um Deus para habitar conosco no mundo.

Maria se avizinha de Deus, é colocada no alto muito mais do que o mais sublime dos anjos já que ela é Mãe de Deus; se avizinha de Deus mais próxima de um outro modo, porque deu corpo ao Filho de Deus e se acha\é aclamada então mais elevada que os anjos, mesmo que a Santíssima Virgem seja toda humilde e não se considere com tal prestigio. Possui sobre eles autoridade e estes ficam radiantes por serem súditos de seu império, como diz São Luís no Tratado, e eles se sentem honrados de executar suas ordens. Ela é verdadeiramente a Rainha dos Anjos. Os patriarcas e os profetas que esperavam e anunciavam o Messias, o Redentor da humanidade culpada, caída pelo pecado original, deviam inevitavelmente levantar os olhos para a Mãe do Messias, Aquela que finalmente iria esmagar a cabeça da Serpente. Esta espera que se prolongou por séculos, começara no coração de Adão e Eva, os primeiros pais do gênero humano, logo após o primeiro pecado e o primeiro perdão do Pai Celeste. A espera e a esperança, o anúncio profético ficaram mais precisos ao longo do Antigo Testamento, tendo Sara, Rute e Raquel como prefigurações desta puríssima Mulher. E assim os Patriarcas e Profetas anunciaram ao mesmo tempo o Redentor e Rei dos reis e a Virgem Santíssima que o traria ao mundo e reinaria à sua direita (Salmo 44: astitit Regina a dextris tuis); a Rainha reina a sua direita, realidade propagada pelo Rei Salomão e difundida nas futuras gerações. Com toda a propriedade Maria é invocada como Rainha dos Patriarcas e dos Profetas.

Depois ela veio na véspera do dia em que iria começar a plenitude dos tempos, na primeira aurora que precederia imediatamente o dia de nossa libertação, eis que sobre o galho de Jessé uma flor se abria. Apareceu enfim no mundo a meninazinha que os Patriarcas e Profetas tanto esperavam, A Rainha dos Patriarcas, Rainha dos Profetas, a simples e humilde filha de Joaquim e Ana, a filha de Adão e Eva que não tinha vestígios sequer do pecado dos primeiros pais, ela é toda pura, como diz o Cântico dos Cânticos (6, 9): “a minha pomba é uma só, é única e perfeita, a filha favorita da sua mãe, a predileta daquela que a deu à luz. As outras jovens a veem e dizem que ela é feliz; as rainhas e as concubinas a elogiam”.

Ela veio cheia de graça e de santidade, “Ave-Ceia de Graça”, mais santa do que jamais seriam os santos na Igreja do Santo dos santos. Ela está na linhagem de santidade só a ela reservada: a santidade de mulher bendita, Bendita és tu entre as mulheres (Lc 1, 42) que deveria dar a natureza humana a uma Pessoa divina; santidade daquela que podendo dizer a Deus, com toda propriedade, meu Filho, é introduzida por isso mesmo na intimidade da Trindade muito além do que qualquer outra criatura. Situada numa linha de santidade absolutamente própria e reservada, por ser tão próxima do Redentor ao ponto de ser sua Mãe, é inevitável que ela possua em superabundância a graça e a caridade que forma os santos, por isso ela é um auxílio dos cristãos, um remédio para os enfermos espirituais. Sua preexcelência em relação a eles é coisa necessária. Foi ela quem melhor penetrou os segredos do Evangelho, meditou-os profundamente em seu coração (Lc 2, 16–21), com mais fervor e inteligência que os Apóstolos e os evangelistas. Eis porque, sem ter pregado o Evangelho, é chamada de Rainha dos Apóstolos. Sua união à dolorosíssima paixão de Nosso Senhor Jesus foi mais dilacerante do que os suplícios dos maiores mártires, logo é Rainha dos Mártires. Sem ter nunca celebrado os santos mistérios nem ter confessado a fé à maneira comum dos confessores, testemunhou desta fé na presença de Deus, dos anjos e dos bons homens com a força e a constância de santa Mãe de Deus; logo é com toda a justeza que podemos e devemos aclamá-la, Rainha dos Confessores. Enfim, sua virgindade foi de tal modo humilde, transparente e penetrada de caridade para com Deus, que mereceu tornar-se mãe de Deus permanecendo virgem, antes, durante e depois; de algum modo o Verbo de Deus se obriga a consagrar a virgindade daquela que lhe dava a natureza humana: verdadeiramente Rainha das Virgens, Rainha de todos os santos, e ela é por consequência de sua bela missão a dispensadora de uma graça singular, a da paz, por ter sido ela aquela que trouxe ao mundo Jesus, nossa Paz, Aquele que veio trazer à salvação do mundo e nos abrir o céu, por isso invocamo-La como Rainha da Paz.

Salve Maria!

--

--

Eduardo Moura
Eduardo Moura

Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

No responses yet