Eduardo Moura
7 min readOct 28, 2020

As virtudes cardeais

Caros irmãos católicos, para falarmos das virtudes cardeais, a princípio, necessitamos definir o que seja “Virtude”. A palavra virtude, do latim virtus e do grego areté (ἀρετή), pode-se ser entendida no sentido de hábito ou maneira de ser de uma coisa (MORA, 2001). Contudo, Aristóteles escreve em sua Ética a Nicômaco que, não somente basta entender a virtude como hábito ou modo de ser, mas faz-se necessário dizer especificamente qual é esta maneira de ser (II, 6, 1106 a). Completa, ainda, Aristóteles que: a virtude é aquilo que faz a coisa ser o que é. Por assim dizer, a virtude caracteriza o homem, e as virtudes se relacionam ao caráter específico do ser humano. Para o filósofo, a virtude encontra-se no meio. Evitando o perigo dos extremos (Ética a Nicômaco, II, 6, 1107 a).

O Catecismo da Igreja Católica define virtude como sendo “uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. com todas as forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe-o na prática” (1803).

É importante esclarecer aqui que as virtudes naturais de forma geral, são adquiridas por meio atos frequentemente repetidos. Em função disso, devemos seguir o conselho do Apóstolo Paulo quando fala aos Filipenses: “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8).

Há quatro virtudes que desempenham um papel de charneira. Por isso, se chamam «cardeais»; todas as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. «Se alguém ama a justiça, o fruto dos seus trabalhos são as virtudes, porque ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza» (Sb 8, 7). Com estes ou outros nomes, estas virtudes são louvadas em numerosas passagens da Sagrada Escritura.

Virtudes Cardeais
As Virtudes Cardeais são assim chamadas devido ao significado da palavra “cardeal”, que vem de gonzo ou dobradiça. Assim dando a entender que são as virtudes principais, das quais derivam tantas outras. As Virtudes Cardeais são um número de quatro: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

Virtudes cardeais quer dizer virtudes centrais, fundamentais, orientadoras. É o mesmo que virtudes morais. São quatro como quatro são os pontos cardeais, as estações do ano, os lados da cruz, os alicerces da casa, os pés da mesa e da cama. A quaternidade para Jung é símbolo da perfeição. Eis as virtudes:

Prudência É o reto agir, o bom senso, o equilíbrio. Cuida do lado prático da vida, da ação correta e busca os meios para agir bem. Prudência é o mesmo que sabedoria, previdência, precaução. O prudente é previdente e providente. É pessoa que abandona as preocupações e abraça as soluções. Deixa as ilusões e opta pelas decisões. Rejeita as omissões e se empenha nas ocupações. O lema dos prudentes é: “Ocupação sim, preocupação não.” A prudência coloca sua atenção na preparação dos fatos e eventos e nunca na precipitação nem no amadorismo ou improvisação. Ciência sem prudência é um perigo.

A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir as circunstâncias, escolhendo assim o meio adequado para realizar algum bem (cf. CIC 1806). Santo Tomás de Aquino ainda vai dizer que a virtude da prudência é a mãe de todas as virtudes, sem a prudência, as demais virtudes poderiam até causar danos ao homem (Suma Teológica, II-II, q. 47, a. 13).

Na Sagrada Escritura, encontramos alguns textos sobre a prudência: “O ingênuo acredita em tudo o que dizem, o homem sagaz discerne seus passos” (Pr 14,15). A Epístola de São Pedro nos apresenta: “Levai, pois, vida de autodomínio e de sobriedade, dedicado à oração” (1Pd 4,7).

Temperança É o auto-controle, auto-domínio, renúncia, moderação. A temperança ordena afetos, domestica os instintos, sublima as paixões, organiza a sexualidade, modera os impulsos e apetites. Abre o caminho para a continência, a castidade, a sobriedade, o desapego. É próprio da temperança o cuidado conosco mesmo, com os outros e com a natureza. A temperança não permite que sejamos escravos, mas livres e libertadores e nos encaminha para o cumprimento dos deveres e para a maturidade humana. Sem renúncia não há maturidade. Grande fruto da renúncia é a alegria e a paz.

A temperança é a virtude moral que modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração (63). A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: «Não te deixes levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites» (Sir 18, 30). No Novo Testamento, é chamada «moderação», ou «sobriedade». Devemos «viver com moderação, justiça e piedade no mundo presente» (Tt 2, 12). CIC,1809.

Fortaleza Faz-nos fortes no bem, na fé, no amor. Leva-nos a perseverar nas coisas difíceis e árduas, a resistir à mediocridade, a evitar rotina e omissões. Pela fortaleza vencemos a apatia, a acomodação e abraçamos os desafios e a profecia. É virtude dos profetas, dos heróis, dos mártires e dos pobres. A fortaleza dos mártires e a ousadia dos apóstolos, como também a força dos pequenos e dos fracos é um sinal do dom da fortaleza na vida humana e na história da Igreja. Hoje a fortaleza nos leva a enfrentar a depressão, o stress, o câncer, a AIDS, os golpes da vida. Grandes são os conflitos humanos, porém maior é a força para superá-los. A vida é luta renhida, dizia nosso poeta e a fé é um combate espiritual. “Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa. «O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória» (Sl 118, 14). «No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!» (Jo 16, 33). CIC,1808.

Justiça Regula nossa convivência, possibilita o bem comum, defende a dignidade humana, respeita os direitos humanos. É da justiça que brota a paz. Sem a justiça nem o amor é possível. É a virtude da vida comunitária e social que se rege pelo respeito à igualdade da dignidade das pessoas. Da justiça vem a gratidão, a religião, a veracidade. Não se pode construir o castelo da caridade sobre as ruínas da justiça. Pelo contrário, o primeiro passo do amor é a justiça, porque amar é querer o bem do outro. A justiça é imortal (Sab 1,15). Esta virtude trata de nossos direitos e nossos deveres e diz respeito ao outro, à comunidade e à sociedade.

A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se «virtude da religião». Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. O homem justo, tantas vezes evocado nos livros santos, distingue-se pela rectidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. «Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o pobre, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade» (Lv 19, 15). «Senhores, dai aos vossos escravos o que é justo e equitativo, considerando que também vós tendes um Senhor no céu» (Cl 4, 1). CIC,1807.

«Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o proceder […], de tal modo que se lhe dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e pela mentira (prudência)» (64).

Diante do que foi exposto, as virtudes crescem com a educação, pelos atos deliberados, pela perseverança, pela repetição; e não podemos esquecer do auxílio da graça divina que potencializa a sua ação e seus efeitos.

Eduardo Moura
Eduardo Moura

Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

No responses yet