A necessidade da oração

Eduardo Moura
6 min readJan 12, 2022

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A ORAÇÃO É NECESSÁRIA PARA A SALVAÇÃO!

“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria". Santa Teresinha do Meninos Jesus

“A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes". São João Damasceno, Expositio fidei.

Da necessidade e do meio

Foi um grande erro dos pelagianos afirmar que a oração não é necessária para alcançar a salvação. Dizia o mestre deles, o ímpio Pelágio, que o homem somente se perde se deixar de reconhecer as verdades necessárias a serem sabidas. Grande coisa! A respeito disso, dizia Santo Agostinho: “Pelágio desejada tratar sobre qualquer assunto, salvo a oração”, a qual conforme defendia e ensinava o santo, é o único meio para adquirir a sabedoria dos santos, segundo aquilo que escrevera São Tiago: Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não lança em rosto, e ser-lhe-á concedida (Th 1,5).

As Sagradas Escrituras são muito claras. Elas nos mostram a necessidade que temos de orar, se queremos nos salvar. Importa orar sempre e não cessar de o fazer (Lc 18, 1). Vigiais e orai, para que não entreis em tentação (Mt 26, 41). Pedi, e vos será dado (Mt 7, 7). As palavras supracitadas importa, orai, pedi, como afirmam comumente os teólogos, implicam e revelam necessidade e preceito. Vicleff defendia que esses textos não compreendiam a oração, mas somente a necessidade das boas obras. Assim, a oração, na sua acepção, não era senão o bem agir. Esse erro, toda-via, foi condenado expressamente pela Igreja. Por esta mesma razão, o douto Leonardo Lessius escrevera: “Não se pode negar que a oração aos adultos é necessária para a salvação, sem incorrer em erro de fé. É o que consta nas Sagradas Escrituras de modo evidente: que a oração é o único meio para obter os auxílios necessários à salvação”.

A razão é clara: sem o socorro da graça, nós não podemos fazer bem algum. Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15, 5). Sobre esta palavra Santo Agostinho observa que Jesus Cristo não disse nada podeis cumprir, mas nada podeis fazer. Nosso Salvador quisera com isso nos revelar que nós, sem o auxílio da graça, nem sequer podemos começar a fazer o bem. Também o Apóstolo escrevera: Não que sejamos capazes, pos nós de pensar alguma coisa sobrenaturalmente boa como vinda de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus (II Cor 3, 5). Se não podemos, pois, nem mesmo pensar o bem, tampouco podemos desejá-lo. O mesmo nos mostram os outros textos das Escrituras. O mesmo Deus é o que opera tudo em todos (I Cor 12, 6). Porei em vós o meu espírito e farei que andeis nos meus preceitos, que guardeis as minhas leis e as pratiqueis (Ez 36, 27). Do mesmo modo escrevera o Papa Leão I: “Nós não fazemos bem algum, fora aquilo que Deus faz-nos operar pela Sua graça”. Por isso o Concílio de Trento diz: “Se alguém disser que sem uma prévia inspiração e auxílio do Espírito Santo o homem pode crer, esperar, amar ou se arrepender, como se necessita para obter a graça da justificação, seja excomungado”. (Sess. 6, can. 3.)

O autor de Obra Imperfeita, ao falar dos animais, diz que o Senhor providenciou a uns a rapidez, a outros as garras, e a alguns as penas, para que pudessem assim conservar a própria vida. Mas o homem, no entanto, foi formado em tal estado para que somente Deus fosse a sua força. Desta maneira, o homem é inteiramente impotente em lograr a sua salvação, pois Deus quis que tudo quanto tenha ou possa ter receba somente pelo auxílio da Sua graça.

No entanto, pela providência divina, o Senhor não concede o auxílio da graça senão a quem orar, conforme a célebre sentença de Genádio: “Cremos que ninguém consiga a salvação se Deus não o convida, e nenhum convidado atua para a salvação se não é auxiliado por Deus; e ninguém merece auxílio a não ser por meio da oração”. Visto, pois, que por um lado nada podemos sem o auxílio da graça; e, por outro lado, que tal auxílio ordinariamente é dado por Deus somente a quem orar, quem não poderá, por conseguinte, deduzir que a oração é absolutamente necessária para nossa salvação? É verdade que, como diz Santo Agostinho, as primeiras graças vindas a nós sem a nossa cooperação, tais como a vocação à fé e à penitência, são concedidas por Deus também àqueles que não oram. Todavia, o Santo tem por certo que as demais graças — e, sobretudo, o dom da perseverança — não sáo concedidas aos que não oram.

Em virtude disso, teólogos como São Basílio, São João Crisóstomo, Clemente de Alexandria e outros, como o próprio Santo Agostinho, ensinam que a oração para os adultosé necessária não somente como preceito, como vimos, mas também como meio de salvação. Vale dizer que, conforme a Providência ordinária, é impossível um fiel se salvar sem pedir com insistência a Deus as graças necessárias. Isso também nos ensina Santo Tomás de Aquino, quanto diz: “Após o batismo é necessário, pois, ao homem a oração contínua, a fim de entrar no céu. Porque, conquanto por meio do batismo os pecados sejam perdoados, não obstante o germe do pecado permanece e assalta-nos inteiramente; e o mundo e os demônios, extremamente”. Portanto, a razão que nos faz ter a certeza, conforme o Doutor Angélico, da necessidade da oração, é esta: nós, para nos salvarmos, devemos combater e vencer, pois o que combate nos jogos públicos não é coroado, senão depois que combateu segundo as regras (II Tm 2, 5). Sem o auxílio divino, não podemos resistir ao combate das forças de tantos inimigos. Ora, este divino auxílio só se alcançapela oração. Logo, sem oração não há salvação.

Assim, que a oração seja o único meio ordinário para receber os dons divinos, é confirmado de modo mais claro pelo própio Santo Doutor, em um trecho no qual diz que “todas as graças que o Senhor determinou dar para nós, quer dá-las, desde sempre, por meio da oração”. O mesmo escreve São Gregório: “Pela oração, os homens merecem receber aquilo que Deus, antes de todos os séculos, dispôs a lhes dar”. Não necessitamos da oração, diz Santo Tomás, para que Deus entenda nossas necessidades, mas para que nós compreendamos a necessidade de recorremos a Ele, para receber o socorro oportuno para nossa salvação, e com isso reconhecê-lo como único autor de todos os nossos bens. Assim como o Senhor determinou que fôssemos providos de pão semeando o trigo, e de vinho plantando as videiras, do mesmo modo quis que recebêssemos as graças necessárias para a salvação através da oração, dizendi: Pedi, e vos será dado; buscai e achareis (Mt 7, 7).

Em suma; nós não somos outra coisa além de pobres mendicantes, os quais temos tanto quanto Deus nos dá como esmola. Quanto a mim sou desviado e pobre (Sl 40, 18). O Senhor, diz Santo Agostinho, bem quer dispensar as Suas graças, mas não as quer dispensar a não ser aos que Lhe pedem. Ele assegura ao dizer: Pedi e vos será dado. Buscai, para vos ser dado. Santa Teresa diz que quem não pede, não recebe. Assim como a seiva é necessária às plantas para viverem e não secarem, diz São Crisóstomo, também a oração nos é necessária para a salvação. Em outro trecho, diz o mesmo Santo: “Assim como o corpo não pode viver sem a alma, a alma sem a oração está morta e exala mau odor”. Diz que exala mau odor, porque quem deixa de rogar a Deus começa rapidamente a deteriorar-se com os pecados. A oração também é chamada de alimento da alma, porque diz Santo Agostinho, “assim como o corpo não pode se sustentar sem alimento, a vida da alma não pode se conservar sem a oração”. Todas essas semelhanças, que os santos padres apresentam e ensinam, denotam a absoluta necessidade da oração para alcançar a salvação.

Santo Afonso de Ligório — Do Grande Meio da Oração, cap.1, A necessidade da oração.

Viva Jesus, nosso amor!
Viva Maria, nossa esperança!

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Eduardo Moura
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Written by Eduardo Moura

Ad maiorem Dei gloriam! — Minha missão é ensinar e, com o auxílio da graça de Deus, converter. Escritos de um católico sobre catequese e vida dos Santos.⚜️

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