A devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Caros irmãos católicos, neste texto vamos conhecer a gloriosa devoção ao Sacro Santo Coração de Nosso Senhor.
Origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus
A base escriturística desta devoção remonta àquele trecho do Evangelho de João (13,23) o qual narra o reclinar-se do discípulo amado ao peito de Jesus. Há inúmeras referências na época dos Padres da Igreja e na Idade Média. No entanto, quem hoje vê o nome do Sagrado Coração honrar a divisa de diversas ordens religiosas, paróquias, instituições de ensino e de assistência social, não pode imaginar com facilidade os dramas e dificuldades no surgimento desta devoção.
Após uma fase de eclipse, esta devoção ganhou novo impulso após as visões de Santa Margarida Maria Alacoque (1647–1690), difundidas por seu confessor São Claude de la Colombière (1673–1675).
Além das tradicionais festas de São João, o mês de junho é também dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, cuja festa, embora remonte a tempos imemoriais, foi instituída oficialmente no calendário litúrgico pelo bem-aventurado Papa Pio IX, em 1856. A devoção ao “manso e humilde” Coração de Cristo é de suma importância para o crescimento no amor de Deus e nas virtudes da fé, esperança e caridade. Apesar disso, há ainda quem torça o nariz para essa espiritualidade, rotulando-a de efeminada ou piegas. Como, então, compreender o sentido da devoção ao Sagrado Coração de Jesus?
Para aceitar a doutrina sobre essa festa sagrada, o fiel precisa, antes, implorar a Deus pelo aumento da própria fé. Na Carta aos Efésios, São Paulo pede para que Cristo habite pela fé nos corações dos cristãos, a fim de que, uma vez “arraigados e consolidados na caridade”, eles sejam “poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do […] homem interior” (3, 16). Praticando a fé, a alma torna-se mais dócil à vontade de Deus, e Jesus mesmo a transforma, concedendo-lhe um coração informado pela caridade. Afinal, o que Deus deseja é a nossa santificação.
Essa fé exercida permite que a alma contemple “a altura e a profundidade” do amor de Deus, que se manifestou no corpo de Cristo dilacerado na cruz; e, em especial, no Seu Coração, de onde jorrou a água e o sangue dos sacramentos. Segundo a Tradição, o coração é o centro de onde emergem todos os desejos, sentimentos e propósitos do ser humano. Nesse caso, Jesus amou-nos não apenas com amor divino, mas, por sua natureza humana, amou-nos também com amor espiritual e sensível. A Igreja fez questão de afirmar solenemente essa verdade do tríplice amor de Deus contra tantos hereges que, de alguma forma, quiseram negar a união hipostática em Jesus e tudo mais que decorre dessa verdade. Para afastar qualquer dúvida sobre isso, o Papa Pio XII defendeu firmemente que
o amor que se exala do Evangelho, das cartas dos apóstolos e das páginas do Apocalipse, onde se descreve o amor do coração de Jesus, não compreende somente a caridade divina, mas se estende também aos sentimentos do afeto humano. Para todo aquele que faz profissão de fé católica, essa verdade é indiscutível. (Haurietis Aquas, n. 21) (grifos nossos).
O amor sensível do Coração de Jesus diz respeito aos seus afetos. Ele sentiu compaixão, tristeza, angústia, raiva e alegria por amor a nós, a fim de nos redimir inteiramente. Em certo sentido, os afetos de Cristo podem parecer estranhos, mas é preciso lembrar que, contra as ideias do luxurioso Pedro Abelardo, Santo Anselmo enfatizou que o amor humano, o eros, não é, em si mesmo, pecaminoso; ao contrário, o eros bem orientado serve-nos para nos “elevar ’em êxtase’ para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios” (Bento XVI, Deus caritas est, n. 5). Portanto, “o coração de Cristo, unido hipostaticamente à pessoa divina do Verbo, sem dúvida deve ter palpitado de amor e de qualquer outro afeto sensível” (Haurietis Aquas, n. 22).
E que grande consolo é, para nós, saber que Deus “nos cerca de carinho e proteção” (Sl 124, 2), como um verdadeiro Pai. Não há por que temer os afetos de Cristo, pois “esses sentimentos eram tão conformes e estavam tão em harmonia com a vontade humana… e com o próprio amor infinito que o Filho tem com o Pai e com o Espírito Santo, que jamais se interpôs a mínima oposição e discórdia entre esses três amores” (Haurietis Aquas, n. 22).
A alma humana de Jesus também nos amou profundamente. Na hora da paixão, Nosso Senhor permitiu que toda a agitação dos Seus afetos — medo, angústia, pavor etc. — oprimisse a sua carne para que, com um ato de vontade ainda mais determinado, Ele ordenasse os próprios impulsos e manifestasse totalmente o amor de Deus pela humanidade. Trata-se de uma característica bem humana. Os animais, quando têm alguma dor, não a suportam por algum bem maior, por um sacrifício. Os seres humanos, por outro lado, têm a liberdade da alma para aceitarem sofrimentos com resignação. Por isso, “Jesus Cristo tomou em si a natureza humana perfeita, o nosso corpo frágil e caduco, para nos proporcionar a salvação eterna e manifestar, patentear em forma sensível o seu infinito amor a nós” (Haurietis Aquas, n. 24).
Ademais, Jesus nos amou com amor divino por estar intimamente unido à Trindade Santíssima. Ele é o ungido do Pai, aquele em quem Deus colocou toda a Sua afeição.
Todos esses três amores de Jesus agem, pela fé, em nosso coração, com a finalidade de nos redimir e tornar-nos verdadeiros devotos de Deus. A devoção nada mais é que a expressão sincera de um amor profundo por Deus, sobretudo a devoção ao Seu Sacratíssimo Coração, que “é um ato de religião excelentíssimo, visto exigir de nós uma plena e inteira vontade de entrega e consagração ao amor do divino Redentor, do qual é sinal e símbolo vivo o seu coração traspassado”. Os devotos do Sagrado Coração terminam, eles mesmos, manifestando três amores: o sensível, o racional e o divino, pela unção do Espírito Santo, que faz crescer o nosso homem interior.
Neste mês de junho, portanto, aproveitemos a liturgia da Igreja para implorarmos a Cristo a graça do amor verdadeiro, para que possamos reparar nossas ofensas e louvá-lo de todo coração, pois é do Coração de Cristo que brotam as águas da virtude e da salvação eterna.
Oração de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus
Atos dos santos padres para edificação dessa devoção.
Leão XIII na Annum Sacrum (1899) com a Oração para consagração ao Sagrado Coração; São Pio X; Pio XI na Miserentissimus Redemptor (1928); Pio XII na Haurietis aquas (1956); João Paulo II na Redemptor Hominis (1979) e Bento XVI em carta ao Pe. Kolvenbach Geral da Comapanhia de Jesus.
Salve Maria!!